Moderna, emancipada e liberal. Antes de chegar por aqui, essa era a imagem que tinha da mulher holandesa. Bom, acho que de todos estereótipos que tinha da Holanda, nenhum estava tão erroneamente formado. Coincidentemente, nas últimas semanas tenho observado mais e mais artigos, estudos e reportagens publicadas sobre a mulher holandesa. Por que será?
A participação das mulheres no mercado de trabalho holandês está 65% acima da média européia. Até aí, ponto para as holandesas. O queijo começa a embolorar quando comparamos a quantidade de horas trabalhadas. Enquanto que em países como Suécia, Itália e Alemanha, este número está acima das 30 horas. Aqui, no pindorama latícinio esse número fica na média de 25, 5 horas.
Outro dado interessante é que apenas 5% das mulheres com filhos trabalham dois turnos. A maioria se contenta em trabalhar 2 ou 3 dias por semana. E a relação entre filhos e horas trabalhadas, claro, é inversamente proporcional: quanto mais filhos, menos trabalho ( fora de casa, claro. Em casa só aumenta). Após o nascimento do primeiro filho, 25 % das mulheres param de trabalhar. Depois do quarto rebento, mais de 50% jogam os terninhos no lixo e se contentam com as fraldas.
De acordo com o último estudo apresentado no Prinsjesdag, a tendência é de vermos ainda mais trabalhos temporários e de meio-turno. As novas gerações já procuram um primeiro trabalho que seja de meio turno e depois de terem filhos diminuem ainda mais a labuta fora de casa. O que podemos esperar num futuro próximo? Dependência financeira. Ao mesmo tempo, as mulheres se dizem satisfeitas com os seus trabalhos de meio período e com o tempo que dedicam a sua família. Assim, muitas vezes a dependência financeira é uma questão de opção.
Pelo que tenho visto e lido existem razões de ordem prática e cultural. Primeiro, aqui não existe babá fulltime como no Brasil e as creches são caríssimas. Mas acredito que as principais razões são mesmo de ordem cultural. Numa pesquisa feita pelo Sociaal Culturel Planbureau (SCP) apareceu o seguinte resultado: 60% das mulheres e 75% dos homens acaham que uma criança é melhor criada pelos pais. Leia-se: não à creche. Resultado: menos mulheres no mercado de trabalho. Numa rápida entrevista que fiz com a Daphne Deckers no lançamento da Revista Vrouw, ela tocou justamente no impasse entre carreira e filhos em que se encontra a “cheia de culpa” mulher holandesa .
Solução? Melhorar e aumentar a oferta de alternativas para cuidar das crianças, novas formas de trabalho como horas flexíveis, por exemplo e muita criatividade. Foi aprovada uma moção no Parlamento em que as escolas terão de oferecer serviços extras para as crianças, caso seja solicitado pelos pais. Ou seja, as crianças poderão ficar mais tempo na escola e os pais – os dois!- no trabalho. Isso pode realmente significar um rompimento neste ciclo de mais filhos-menos trabalho, mas acredito que o que ainda mais vale é a opção. Se a mulher (ou o homem) prefere passar mais tempo em casa cuidando dos filhos e ter um trabalho de meio-turno que assim seja. O que não pode ocorrer é que alguém seja impedido de prosseguir com a sua carreira porque não tem com quem deixar os seus filhos. Resta saber se é isso mesmo que elas querem.
Imagem: babyease.com
7 comments
Oi Clazinha!
Espero que tudo esteja bem aí nessa terra de laticinios. Vi num post abaixo que vc leu op caçador de pipas… mas nao li o post pq nao queria acabar lendo algo da historia ahahha gostou? estou louca pra ler!
Querida, comprei a passagem pro brasil. de 21 de janeiro até 7 de março. se vc passar pelo rj nessa epoca me fala.
beijoca
PS: vc tem facebook?
Recentemente, em comemoração ao aniversário de XX anos, a revista feminista Opzij juntou-se a feminina Margriet para realizarem uma pesquisa sobre ‘o que quer a mulher holandesa’. Li numa coluna da Aaf no NRC next que a conclusão a que chegaram é que as holandesas atualmente não querem nem trocar fraldas nem pegar no batente, querem mais é ter tempo livre para elas mesmas… “sentar em um parque com um livro na mão ou sentar com um livro em casa mesmou ou ainda apenas sentar”, nas palavras da Aaf… hahahahahaha e no final ela completa que as pessoas realmente inteligentes trabalham menos porque trabalhar não é coisa de gente esperta! hahahahahha enfim… dá pra refletir um pouco…
Muito bom caminhar contigo, Clarissa! E muito sucesso na semana que vem!
beijos,
Dani, não é que essas holandesas são espertas?
beijo, adorei o passeio.
Cla,
Acho muito legal esse negócio de se dedicar mais aos filhos e equilibrar as horas entre o trabalho e a família.
Só senti falta do pai também fazer isso. Assim a mãe pode trabalhar um pouco mais e o pai se envolver com o dia a dia das crianças.
Ah, no Brasil é que essa relação está completamente errada.
Tenho amigas que só trabalham tem 2 babás e só ficam com os filhos no fim de semana (mesmo assim com 1 babá). Não dá né!!!
Xiiii, acho que digitei demais!
Bjo!
pois é um dilema realmente…mas cabe ao estado amparar e prover creches e outras instituiçoes de apoio para que estas mulheres se sintam aptas a voltar ao trabalho. o que penso é que, nao dá para ter um bebê e voltar a pensar full time em trabalho (por isso é legal o esquema de horas diminuidas – apenas 1 turno de trabalho ou mesmo dias alternados de trabalho). aqui na bélgica também temos problemas de creches…só que sobram para as avós cuidarem dos netos…enfim, alguém tem que ajudar as famílias e nao apenas as mulheres a encontrar o caminho.
… O X da questão na sociedade moderna é esse:Como ter filhos quando pais e mães trabalham? Acredito que nesta questão há um forte impasse, porque poderíamos dizer, ahh os filhos podem ir para creches, passarem mais tempo na na escola etc…No entanto ter filho, não significa, abdicação de certas coisas, tais como: lazer, certa liberdade e mais responsabilidade, como também certa “passagem” de suas impressões e valores de mundo, assim ter seu filho criado por terceiros, não seria a perda desses laços? Creio que tal vez pudesse ter acordo entre pai,e mãe com relação a esse tempo de trabalho menor para os dois… Mas vejo de forma positiva a possibilidade dessas mulheres, poderem trabalhar, ter certa renda e se manterem próximas nas relações com os filhos, situação quase impossível e inexistente no Brasil!E adorei o post me ajudou a visualizar e refletir sobre um assunto bem interessante
É isso aí Linda! Acho única a possibilidade de escolha. Quem quer, tem a possibilidade de trabalhar part-time e muitas vezes na Holanda, vemos pais e mães trabalhando part-time para criar seus filhos.Mas com a crise, vemos os incentivos de creche e outros subsídios diminuindo e com o aumento do desemprego, as empresas estão exigindo (e preferindo) cada vez mais pessoas que trabalham em tempo integral.
Muito obrigada pelo seu comentário e volte sempre!