Estávamos no carro. Ele olhou pra mim e falou: São quase 8 horas. Estacionou o carro e ficamos 2 minutos em silêncio. Nós dois e toda a Holanda. Era 4 de maio de 2008 e o gesto me tocou profundamente.
Todo ano, 4 de maio, a Holanda relembra os mortos de todas as guerras. Na Praça do Dam, em Amsterdam, acontece a cerimônia principal, mas todo o país pára às 20h. No dia seguinte, se festeja o Dia da Libertação ou fim da ocupação nazista durante a 2a Guerra Mundial com festivais em todo o país. Nunca havia passado pela minha cabeça comemorar a liberdade. Ela sempre me pareceu tão óbvia. Aqui na Holanda, a palavra assumiu uma conotação mais concreta.
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Liberdade e Democracia
Esse ano, a celebração toma outra dimensão. Depois de mais de 70 anos, temos uma guerra na Europa causada pela invasão de um país por outro. Os fantasmas da guerra voltam a arrastar correntes pelo continente. Já a ameaça à liberdade nos ronda há algum tempo.
Vivemos em tempos confusos. Conceitos de liberdade e democracia são distorcidos e vendidos como uma roupa remodelada. Roupa que cai como uma luva em quem quer manipular e desinformar. Muitos que se dizem defensores da liberdade e democracia, aplaudem a tirania e espalham mentiras populistas. Democracia virou um artigo em loja de confeitos coloridos. Você escolhe qual a cor que quer comprar ou a que lhe convém. Acontece que democracia, no seu elemento mais puro, não pode ser dissociada de liberdade e tampouco de igualdade. Não dá pra escolher qual elemento você quer comprar. É um pacote. Então, não dá pra falar de democracia e liberdade e, ao mesmo tempo, defender discriminação, ameaças e qualquer coisa que vá de encontro aos princípios básicos de uma vida digna para todos – e não apenas para um grupo.
A guerra é o oposto mais extremo da liberdade. Mas a nossa memória e capacidade de aprendizado não são tão agressivas como a violência dos conflitos. Por isso, temos que relembrar e recontar a história. Assim, re-aprendemos a cada ano o valor de ser livre. Aqui na Holanda, acontece nos dias 4 e 5 de maio. Mas há mais de dois meses, estamos sendo relembrados 24 horas do que é a guerra e a perda da liberdade. O triste é que mesmo assim, não vamos aprender.
Saiba mais sobre essas datas especiais o site do comitê