Bailandesa

Primavera na Holanda. O primeiro beijo

Pedalando e me adaptando na Holanda

Me identifiquei com a frugalidade holandesa - ©Bailandesa

O vento toca  meu rosto, mas só acaricia. Deixou de lado a rudeza do inverno. Pedalo olhando pro alto e como num filme, vejo num fundo azul imaculado, um caminho a se formar pela série infindável de galhos de árvores paralelos que passam. Ainda sem folhas, é bem verdade, mas tocados por uma luz quase divina, como aquelas que varam os vitrais de igreja em domingos ensolarados. Al Green canta no meu ouvido que o amor é uma coisa linda e, num dia como esse, quem há de duvidar?  Visto apenas uma camiseta e um leve suéter de linha, que trago aberto no peito. Não há xale, cachecol, luvas, gorro. E  a jaqueta de inverno, pobre coitada, descansa pendurada na solidão da casa vazia. Quem quer ficar em casa num dia desses?


Esse é não é o primeiro dia de primavera, mas para mim é o primeiro sol de primavera. E a sensação é de que abriu-se o porão da vida. Ainda pedalo e ao pedalar, pareço alimentar um caleidoscópio de cores, gente, sons e cheiros. Sorrisos, sempre acompanhados de óculos escuros, acenam com uma cordialidade há muito esquecida. Acabaram-se os ombros recolhidos e a cabeça baixa em reverência ao frio. Todos parecem estar contaminados por uma espécie de excitação quase pueril.
Como que em estado de graça, encantados por terem recebido o primeiro beijo. Um beijo morno e suave de um cálido sol de primavera, que por ironia, só é tão celebrado porque existe o inverno.
Que venham mais e mais beijos. Cada vez mais quentes e apaixonados.

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