Bailandesa

Alguém, puxa o freio de mão!

Gente, desembestei. A nêga do leite tá com inveja de mim. Hoje, a língua soltou a catraca, a rebimboca da cabeça desparafusetou, deu um clique e descarrilei a falar holandês com todo mundo que via pela frente.

Saí da escola com umas colegas e fui dar uma olhada nas lojas em liquidação no centro de Utrecht. Aliás, comprei um blazer na Esprit, um luxo só, com 70% de desconto. Mas voltando, lá vamos nós, de bicicleta, falando meio inglês, meio espanhol, meio holandês e eis que de repente, me vi dentro da loja conversando com a vendedora, com a caixa normalmente, – ah, dá um desconto, vai – digo, sem muita dificuldade, entendendo tudo e respondendo razoávelmente bem. Na feira, a mesma coisa. Comprei queijo, pedi pra provar, bati um papinho com a mulher e lá fui pro estacionamento de bicicleta. Lá conversei um pouquinho com o cara e até comentei com ele que estava mais barato, fiz piadinha e segui. Ron ligou e continuei. A língua, em perfeita sinergia com a garganta, continuava frenética. Ou seja, tudo fluía macio, quer dizer, descia feito jamanta sem freio, desgovernada, ladeira abaixo.

Nem acreditei. No dia que fui com uma amiga ao centro de Utrecht, o meu holandês tava mais travado que velho com reumatismo. Uma mulher tentou me entrevistar em holandês e eu com cara de idiota respodia: “wat zeg je?” (o que você disse?). No final, a única coisa que consegui falar foi “I’m sorry“. Deixei a mulher e o câmera no meio rua, chupando o dedo.

Mas como dizem, depois da tempestade (literalmente, diga-se de passagem), vem a bonança. Não sei se foi vento de ontem que chacoalhou Hans e Kees, meus 2 neurônios bailandeses, mas as palavras pipocavam boca à fora, mais do que foguete de São João. Não satisfeita, ainda cheguei em casa e me deparei com uma vizinha, que sempre achei meio carrancuda. Pois não é que ela abriu um sorriso e começou a desfiar um rosário na língua da Rainha Beatrix e eu respondendo na maior calma. Melhor de tudo; no final, ela vira e fala: “Você fala como a Máxima (princesa holandesa, nascida na Argentina, que aprendeu a falar holandês em tempo recorde). Calma, povo, acho foi só no sotaque. Tô “miss”, né? “Me sentindo”. Quero só ver se amanhã a carruagem vai virar abóbora e meu holandês vai virar pudim de jerimum.


beijo e tot schrijfs (até o proximo post),
Imagem : http://www.canalkids.com.br/cidadania/democracia/index2.htm
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