Bailandesa

Luto

Hoje ia escrever sobre uma coisa totalmente diferente, bem-humorada e divertida, como a maior parte das coisas que tento trazer pra vocês, mas ao visitar o blog da Susana, soube que hoje está acontecendo uma blogagem coletiva em protesto contra a bárbara morte do João Hélio de Souza e simplesmente não consegui prosseguir com a idéia original.

Há dias venho acompanhando as notícias e essa história está engasgada ou embargada na minha garganta. Não consigo entender. Diante dos meus olhos perplexos, passam artigos, notícias, entrevistas, posts em blogs e não consigo digerir. Sem tentar encontrar desculpas para o que aconteceu, tento incansavelmente apenas entender o inexplicável: a crueldade. Pessoas capazes de tal ato, não podem mais ser chamadas de pessoas, elas cruzaram a fronteira. Diante de tudo isso, a sociedade perdeu a capacidade de indignar-se. Aliás, até nos indignamos, mas depois esquecemos. Até surgir um crime ainda mais hediondo para nos indgnarmos de novo e esquecermos mais uma vez.

Acompanho as discussões sobre a redução da maioridade penal que é o novo cavalo de batalha e assunto do momento no país, mas lembro que em momentos extremos geralmente tomamos decisões precipitadas, movidas pelas emoções em ebulição. O que precisa ser discutido é como e porque a sociedade chega a um ponto em que temos que conviver com o fato de que uma criança foi arrastada por 7 km atada a um cinto de segurança em troca de um carro, um celular e outros pertences. Me pergunto qual é o limite de violência que podemos suportar? Até quando vai a nossa capacidade de “se acostumar” com a situação? Cada vez que deixo de me horrorizar com uma cena violenta, sinto-me menos humana. De alguma forma, precisamos recuperar o poder de nos chocar com a violência e de valorizar a vida.

Não moro mais no Brasil, mas não me sinto menos brasileira. Morei no Rio doze anos e já conseguia distinguir os sons dos tiros dos de fogos de artifício, de armas pesadas e de revólveres. Será que deveria ser assim? Será isso deveria ser considerado normal? Parece que a nossa resistência (ou tolerância) à violência é uma infinita bolha que nunca pára de inflar. O pior é que isso é realidade, não é ficção. Nessa história não existem heróis, príncipes ou princesas, nela somos todos apenas sapos já fervidos , afogados no nosso próprio torpor, à espera do beijo que nos salve e traga de volta a paz.

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