Bailandesa

10 dias sem lava-louças na Holanda

O jantar terminou, arrumamos a cozinha e, como de costume, ligamos o lava-louças. O dia ia terminar tranquilo. Mas, enquanto tentávamos terminar a nossa sempre otimista lista de coisas para fazer, um barulho de fundo persistente incomodava. Era como um carro que tentava dar partida e não conseguia. Tinha alguns arrancos promissores, mas no final, o motor morria. Era o nosso lava-louças que dava sinais de senilidade. Não conseguia mais cumprir o seu papel de salvador de mãos e da paz doméstica.

Lava-louça - Coluna Bailandesa

E depois de mas de 20 anos, o lava-louça resolveu se aposentar

E aí, quem tem mais habilidade técnica, tentou resolver o problema. Até o famoso “reset”, tirando a tomada da parede foi tentado, mas não adiantou. Mudamos há 6 anos para essa casa e a cozinha já tinha mais de 20 anos. Não podíamos esperar mas nada da pobre máquina. Era hora de se aposentar.

Crise de mão-de-obra

Não me estressei na hora. Pensei: amanhã compramos uma nova e em dois dias a vida volta ao normal. Depois de algumas horas pesquisando, compramos uma. Poderíamos instalar nós mesmos, mas, optamos pela comodidade e pagamos a instalação.  Tudo corria conforme esperado. Só não contávamos com a crise de mão-de-obra que a Holanda e muitos países enfrentam. Resultado: teríamos que esperar 10 dias para instalar a tão esperada máquina. Uma crise de mau humor me abateu. Em um segundo, virei uma velha rabugenta. O marido respirou e disse: nada de estresse. Durante esses 10 dias, lavaremos juntos os pratos. Eu lavo e você enxuga. Respirei aliviada.

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Lava-Loucas. Um eletrodoméstico subestimado?

Quando cheguei na Holanda, achava um lava-louças para duas pessoas um luxo. Até que comecei a viver aqui e, na época, fazer a limpeza da casa, trabalhar e ter uma vida completamente diferente da que tinha no Brasil. É muito fácil achar algo supérfluo ou desnecessário quando se tem alguém para fazer serviço.  Assim, o lava-louças se tornou o meu queridinho ou eletrodoméstico mais subestimado de todos os tempos. Agora, 16 anos depois, me vejo sem ele. E agora?

10 dias sem lava-louças na Holanda

Começamos os nossos 10 dias sem lava-louça. Como prometido, ele disse: vamos arrumar a cozinha. Organizamos a louça e retiramos bem os resíduos de comida. Aí, ele encheu a pia de água quente com detergente e colou os pratos e talheres na pia espumante e com água quente. Me lembrou um ofurô com água suja.

 

Até no jeito de lavar pratos existem diferenças culturais.

Questionei o fato da água ficar suja, mas tenho que confessar que como os pratos estavam bem limpos antes de entrar, a água não tava tão suja assim. E ele olhou pra mim e falou: O que você acha que acontece na máquina de lavar pratos? Realmente, não é muito diferente. Ainda mais se considerarmos que usamos água bem quente. Mas mesmo assim, não me conveci totalmente. Se tiver curiosidade e puder ler um holandês, veja esse post sobre lavar louça na Holanda

Ele ia esfregando os pratos com a escovinha e colocando os pratos do lado. Eu olhava para umas poucas bolhinhas de sabão nos pratos, enquanto ele esperava que os enxugasse. Perguntei: você não vai enxaguar? Ele falou: não é preciso. 

Uma pausa para uma explicação um pouco mais técnica:

Os holandeses geralmente lavam os pratos dessa forma. Para ser efetivo, é preciso alguns cuidados:

  1. Os pratos devem estar livres de restos de comida. Voce pode usar um guardanapo por exemplo;
  2. A pia e o ralo devem estar limpos;
  3. Lave na ordem correta. Copos, talheres, pratos e por último os recipientes mais gordurosos
  4. Usar água quente acima de 60C e pouco detergente;
  5. Os resíduos de detergente são tirados pela toalha de prato – ah, e deve ser uma que absorva bem, claro;
  6. Algumas pessoas enxaguam e espera secar no escorredor.
  7. Esponja e/ou escovas devem estar limpas
  8. A Toalha de prato deve estar limpa e ser feita de material que absorve bem a água
  9. O objetivo aqui a economia de água.

 

Bom, ele não me convenceu de que não é preciso enxaguar ou de que esse método é o melhor. Mas chegamos a uma solução intermediária. Não lavamos os pratos com o método de molhar, esfregar e enxaguar individualmente, mas não guardamos os pratos com resíduos de detergente. Mesmo que sejam mínimos.

10 dias lavando os pratos juntos foi um exercício de negociação cultural. A máquina de lavar pratos já chegou e foi instalada, mas devo dizer que, de certa forma, vou sentir saudades desses 10 dias de conversa na cozinha, da pilha de panos de pratos molhados e das acaloradas negociações inter-culturais. Mas uma coisa é certa: O melhor método de lavar louças ainda é a méaquina de lavar pratos. Seja na Holanda ou em qualquer lugar do mundo.

 

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