Bailandesa

Coluna: Precisamos falar sobre a pressa

Alguém toca a campainha e vejo as costas do entregador que deixou o pacote e, assim que viu que alguém abria a porta, saiu correndo para a próxima entrega. Tinha comprado algo no dia anterior que não tinha a menor urgência. Mas a loja prometia entregar no dia seguinte. E assim o fez.

Consumidor-Deus

Com a pandemia, para preencher o vazio da vida em quarentena, redecoramos a casa, nos entregamos a novos hobbies e comprar online se tornou quase a única opção. Mas enquanto o mundo parava, as entregas aceleravam. A guerra pelos consumidores escassos se acirrou. Se o consumidor já era rei, virou Deus. Assim, as entregas se tornaram cada vez mais rápidas. Também as devoluções gratuitas ganharam condições menos restritas e prazos mais longos. A urgência de ontem, virou o regular de hoje.

Pressa X Vida simples

Ao mesmo tempo, vemos crescer a cada dia, o número de pessoas que adotam (ou querem adotar) um estilo de vida mais simples. Passeio pelo feed em meu instagram e vejo anúncios de yoga, meditação, vida simples, mindfullness.  E fico pensando no paradoxo:  ao mesmo tempo que sonhamos com uma volta ao natural, valorizamos o artesanal, buscamos paz de espírito e reaprendemos a respirar, queremos que nossas compras de supermercado sejam entregues em 15 minutos. A pressa e impaciência tornaram-se monstros insaciáveis e a vida simples se tornou um produto atrativo.

Enquanto esperamos pelo nosso tapete de yoga, a ser entregue em menos de 24 horas, existem entregadores e outros empregados fazendo xixi em garrafas plásticas para garantirem os prazos impossíveis. Um outro lado dessa história é o dos pequenos empresários. Esses não conseguem competir com as grandes redes e os seus contratos mais vantajosos com empresas de logística. 

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A pressa também aumenta as devoluções

A pressa em comprar e receber, também aumenta o volume das devoluções. E muitas vezes,  produtos estão usados ou danificados, que não podem ser revendidos e vão para o lixo. Com a facilidade das entregas, compramos produtos com cores e tamanhos diferentes. Depois, devolvemos os que não queremos. Simples assim. E nesse vai e vem de mercadorias, jogamos mais CO2 na atmosfera e produzimos mais lixo. 

Consumo-Zen

A razão de tudo isso, se resume em duas palavras: comodidade e competicão. É cômodo receber em casa e depois devolver. E não há nada de errado com isso. A única coisa que torna esse círculo danoso é a urgência artificial. Em raras ocasiões, precisamos em receber com urgêncai um produto como uma roupa ou um sapato, por exemplo. E no caso de ser urgente, poderíamos pagar uma taxa de urgência. Dessa forma, entregadores poderiam ter melhores salários e melhores condições de trabalho. Ou seja, é preciso sincronizar o nosso consumo com o desejo de ser zen.

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