Bailandesa

Ignorância criativa

Quando cheguei aqui, os olhos de turista eram mais afiados que peixeira de baiano. Observava tudo quase como uma cientista; as embalagens de supermercado, os jardins, as casas, o comportamento das pessoas e tudo o mais. Tudo era novidade! Claro que esse período é divertido, mas ao mesmo tempo estressante. Todas as dúvidas pairam no ar: será que vou me adaptar? Será que algum dia vou conseguir achar tudo isso normal?. Mas se tinha uma coisa que sempre gostava de fazer era fantasiar sobre o que as pessoas falavam. Ao chegar num café, no supermercado ou preferencialmente em ônibus e trens, ouvia cada palavra que os estranhos falavam e sem entender patavinas, começava a fantasiar sobre a vida daquelas pessoas. Era uma jovem ao celular que, ao fazer uma olhar de tristeza, para mim, já havia terminado o namoro. Uma sogra falando mal da nora com o estranho ao seu lado ou apenas amigas falando sobre a vida cotidiana e reclamando de maridos ou namorados. Na minha ignorância, criava as mais estapafúrdias histórias do dia-a-dia. Acho que todos os autores de novela da Globo ficariam com inveja da minha tão fértil mente.
Hoje ando de bicicleta automaticamente, faço as minhas compras sem parar tanto para tentar ler as embalagens e não me surpreendo tanto com o mundo em minha volta. O pior (ou melhor) de tudo é que entendo mais e mais a língua, mas não 100%. Ou seja, o que antes era divertido, transformou-se num estressante telefone sem fio ou numa aula de holandês. Resultado: presto mais atenção à gramática e à pronúncia do que à história em si. Assim, a fantasia e a critivadade foram por espaço e também a minha carreira de autora de novela aqui na Holanda.
Um beijo povo, inté
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