Bailandesa

Eleições no Brasil. Vivendo perto e morando longe

“A Terra é  azul”, disse Yuri Gagarin , primeiro astronauta a viajar no espaço. De lá de cima, só ele pôde ver a Terra como nenhum de nós jamais tinha visto. 

Nesse período de eleições, já ouvi várias vezes a seguinte frase: você mora fora, não sabe de nada. Ou uma variação: é fácil falar, quando se mora fora. Ouvi tanto esse tipo de comentário que comecei a me perguntar: será que realmente não tenho como avaliar a situação do Brasil? Será que não tenho como opinar com base de conhecimento sobre o que se passa no país? 

 

Um olhar externo

Me lembrei da situação em que procura-se um mediador para um conflito, exatamente por essa pessoa não estar diretamente envolvida no caso. Ou quando se procura um olhar externo, um consultor para uma empresa. Mas esses também não são exemplos perfeitos. Morar fora é diferente. Apesar de estarmos longe, estamos envolvidos sim. Ao deixar o país, levamos o país com a gente, sua história; levamos a nossa história. E deixamos o mais importante: quem amamos. Como se desligar?

O conceito de distância é relativo

Vivi 36 anos no Brasil. Conheço bem a história, a cultura e a sociedade brasileira. Também, venhamos e convenhamos, o conceito de distância é relativo. Já não nos comunicarmos com sinais de fumaça. Leio mídias nacionais e internacionais e acompanho a preocupante escalada do preconceito, racismo, violência contra minorias e contra o meio-ambiente. Além da crescente e perigosa interferência da religião no estado. E ainda a grave ameaça à democracia. Existe uma sombra raivosa e irracional que sobrevoa a nação. Nem 800.000 mortes na pandemia conseguiram penetrar essa espessa camada de ódio. Vivemos tempos sombrios em que barbaridades são tratadas com descaso e vira o normal. E aí, vemos a degradação do melhor do povo brasileiro: a  alegria e leveza de viver –  apesar de todos os problemas. 

Um ângulo diferente

Mas vamos lá, vamos tocar no ponto da distância. Ao chegar num outro país, vivemos outra cultura, temos acessos a outros pontos de vista. E aí, não há como escapar: vem a comparação. Muitas vezes feita de forma justa. Outras nem tanto. Mas a distância reduz o termômetro da emoção e dá um toque de racionalidade na análise. Vemos o nosso país como Gagarin viu a Terra; sob um ângulo diferente.

Talvez não saiba exatamente quanto custa o quilo do feijão, ou a última moda lançada numa novela de TV. Mas o que acontece no Brasil não é uma questão regional, é global. O Brasil sofre de uma doença que se infiltra nas veias de outros países e continentes. E nós temos uma chance de cortar esse fluxo – pelo menos no nosso país.

Voto na esperança

Sou uma brasileira vivendo fora do país há mais de 15 anos e me sinto no direito e dever de me posicionar num momento como esse. Olha, como muitos, tenho críticas ao PT. Não tenho ídolos – muito menos na política –  e gostaria muito de ter um nome para votar que reduzisse a polarização. Acontece que o momento é de urgência. Por isso, no dia 30 de outubro, o meu voto não é apenas contra tudo o que o atual presidente representa. É um voto na esperança de resgatar muitas coisas, mas acima de tudo, a humanidade, a capacidade de olhar para o outro com respeito e na democracia. Por isso, voto 13, voto Lula.

E aí, volto ao Gagarin, ele também disse: “Orbitando a Terra na espaçonave, vi como nosso planeta é lindo. Gente, vamos preservar e aumentar essa beleza, não destruí-la!”. Daqui de longe, também peço: O Brasil é lindo e só nós podemos tirá-lo desse pesadelo. Então, se você ainda está em dúvida, te peço: vote 13 no dia 30.

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