Bailandesa

Uma luz sobre o livro negro

Ontem fui à première do Zwartboek (O Livro Negro), filme passado na Holanda na 2a Guerra Mundial, do diretor holandês Paul Verhoeven, que acumula sucessos como Instinto Selvagem e Robocop . Vocês devem estar achando que estou maluca, né? O Zwartboek já foi lançado no ano passado, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e é mais do que conhecido. Acontece que ontem foi uma estréia especial. O filme foi apresentado pela primeira vez com uma audio-descrição para pessoas com limitações visuais. Ou seja, ao entrar na sala de exibição, você recebe um dispositivo com um fone, parecido com um radinho e através dele, você pode ouvir a descrição do cenário, das expressões faciais das pessoas e tudo o que ocorre no filme entre os diálogos e que não é percebido pelas pessoas que não podem ver.

Foi uma experiência e tanto. Tentei fechar os olhos e assistir o filme somente com a descrição. Para mim, difícil – especialmente quando a descrição é em holandês – , mas a sensação é de um livro em audio e pude ver que você tem a real noção do que está acontecendo na tela.

Vocês podem imaginar que, para este público em especial, esta é uma chance de ir normalmente ao cinema. No final, o produtor e o ator, que emprestou a sua voz à narrativa, estavam lá para responder perguntas. E ouvi depoimentos como: “Não vou ao cinema há 25 anos. Esta foi uma noite muito especial” ou “Esta é a primeria vez que venho ao cinema e o meu marido não precisa descrever o que está acontecendo.” Sem falar na platéia inusitada dos cães-guias, que com exceção de um que, uma única vez, expressou sua opinião durante a exibição, todos ficaram quietíssimos e concentrados.

Óbvio que a bailandesa aqui, não habituada a conviver com pessoas com limitações visuais, esquecia onde estava e de repente se perguntava o porquê da fila demorar tanto ou estranhava o fato de receber tantos esbarrões. Também a caía ficha rapidinho, né? E, pra não perder o meu título de Mevrouw Servetten, notei e senti na ponta dos dedos a falta do amado guardanapo ao comer os salgadinhos ( fritos, por sinal) do coquetel.

Claro que ainda existem melhorias a serem feitas, como as legendas, por exemplo. Neste filme, as legendas quando o alemão ou inglês eram falados não foram incluídas na audio-descrição. Também, não é todo cinema que está equipado para este tipo de exibição. Mas é um ótimo começo e não só o DVD do Zwartboek como outros já estão sendo lançados com esta opção. Assim mais e mais gente pode apreciar e se emocionar com a sétima arte.

Ah, o filme? É um bom thriller de guerra, que talvez nao precisasse de duas horas e meia e nem de tanta dramaticidade, mas vale à pena ver, com certeza. O filme se mantém bem distante da visão maniqueísta e mostra, sem julgamentos, os sentimentos e atos, nem sempre moralmente louváveis, que surgem num momento de luta pela sobrevivência. Destaque para a a talentosa e belíssima atriz Carice Van Houten e as eficientes performances dos atores Sebastian Koch, como o alemão Muntze e Thom Hoffman no papel do durão líder da resistência holandesa.

Aqui vocês conferem o trailer.

Se você quiser participar da campanha 1 Million 4 disabiltty, clique aqui. Esta é uma campanha que visa captar um milhão de assinaturas pelos direitos das pessoas com limitações de qualquer espécie. A campanha vai até 3 de outubro. No dia 4 de outubro, a lista de assinaturas será apresentada na Comissão e Parlamento da União Européia.

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