Bailandesa

Tudo por alguns centímetros a mais

Ontem foi uma noite esclarecedora para mim. Verdade! Ao som do The Police várias coisas ficaram óbvias para mim. A primeira delas é que não tenho nem idade nem altura para assistir shows em pista aqui na Holanda. Mas, pra ficar mais claro, deixa eu começar pelo começo, como dizem.

Depois de uma viagem de trem encostada na porta, me sentido uma própria “message in a bottle“, chegamos à Amsterdan Arena. E aí dá pra ver que porta de grandes shows, guardadas as devidas proporções., em qualquer lugar do mundo é igual. Cheiro de comida, galera se concentrando, camisetas e outros artigos de merchandising sendo vendidos por uma fortuna. Só não encontrei o churrasquinho de gato, mas o cachorrão tava lá.

Aí começa o suplício e a batalha para escolher o local, fincar a bandeira, fazer xixi nos cantos e marcar o seu território. Claro que do alto dos meus um metro e sessenta e bem poucos não dá pra fazer muito estrago. Sei que no final, achamos um lugar. Ao lado de um cara que acendeu um baseado de fazer inveja à Bob Marley e outros dois que, sentados no chão, batiam um interminável papo, completamente alheios às pessoas que brincavam de pular carniça sobre eles.O público tava pra lá dos quarentões. Me senti quase novinha e vi muitos jovens acompanhando os seus pais.

O show de abertura foi da banda Fiction Plane e Joe Sumner provou que é filho do peixão Sting. Não só pela voz que é muito parecida com o pai – principalmente nas notas mais altas -, mas também pelo som. A banda traz um som cheio e próprio, claro que com várias influências do The Police e do próprio Sting.

Termina Fiction Plane e começa a espera e a luta corporal para guardar o lugar para o The Police. Sempre tem aquele espertinho que pede pra passar e se instala bem na sua frente. Claro que ele não olha pra trás e finge que não te vê, mas fica com aquela cara de quem fez algo errado e está esperando a bronca. É não tem jeito, acho que estou ficando velha e perdendo a paciência pra essas coisas.

Também tem o povo que não para de beber. A cada minuto passa um com aquelas bandejinhas com copos de cerveja. Das duas uma, ou eles param de vender cerveja durante o show ou bebo mais pra nem ligar pra isso. Acho que a segunda opção é mais fácil.

Começa o show. Nas pontas dos pés, consigo ver o cabelo de Sting (ou o que sobrou dele depois de 25 anos) no telão. Um cara imenso cisma que quer meu lugar. Coloca o cotovelo no meu ombro e começamos a travar um luta tácita. Danço de cá , ele enfia o cotovelo de lá. Aos berros, canto Don’t stand so close to me, mas não adianta. Ele não entende a mensagem e vamos assim até a metade do show, quando damos um freio de arrumação e ficamos em paz.

Sei que, com todo o perrengue, amei ter tido a oportunidade de – mas ouvir do que ver, é verdade – o The Police ao vivo. Cantar com Sting walking on the moon e me inundar no vermelho que iluminava Roxane. Eles atenderam os anseios dos coroinhas e cantaram músicas como Invisible Sun, King of Pain – que por sinal não é da Alanis Morissete, ok? -, Can’t Stand Loosing you e claro que também a grudenta De Do Do Do, De Da Da Da.

Valeu Mr. Gordon! Com todos os erros do guitarrista Andy Summers, com os telões laterais da mesma altura do palco, com eco que fazia no Amsterdam Arena. Com tudo isso, foi emocionante. Every litle thing you do is magic e ontem, every breath I took was for you.

Aprendizados, sugestões e revelações:

1) Que tal vender ingressos de acordo com a altura? Se você tem um namorado muito alto, encontra com ele depois tá bom?

2) Que tal parar de vender bebida durante o show? Ou se embebeda antes ou depois.

3) Você pode fazer vídeos à vontade durante o show, mas não coloca o celular, a câmera ou o braço na minha frente. Também, por favor, não publique no youtube. Guarda de recordação pra você. Dá um trabalho danado encontrar videos com boa qualidade lá.

4) A regra é simples. Já dizia a musiquinha: “quem vai chegando, vai ficando atrás, menino educado é assim que faz”. Você pode passar, mas não se plante como uma samambaia gigante na minha frente.

5) Ou Sting virou vampiro ou vendeu a alma ao diabo ou toma doses diárias de formol. Gente, Mr. Gordon está um espetáculo e diria até melhor do que há 25 anos atrás.

6) Revelação-mor: Cheguei à idade da arquibancada e binóculos.

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