Bailandesa

Turista até quando?

Ontem tinha dois compromissos em Haia. Um às 9 da manhã e outro à 1 da tarde. Para ser pontual no primeiro, claro que tive que acordar super cedo e saí de casa ainda escuro e com muito frio. Com meu livro nas mãos e o fone do Ipod nos ouvidos, ia no trem lutando contra o sono que insistia em não ir embora. Tão entretida que estava na linda história do Caçador de Pipas, quase que perco um lindo amanhecer. Enquanto lá estava eu estupefata e boquiaberta com a linda bola laranja-flamejante no céu que parecia fatiada pelos fios negros próximos à estação, todos os passageiros enfiavam as caras nos jornais gratuitos distribuídos nas estações. Pensei: esse é o preço da rotina. Aquele espetáculo que o sol oferecia naquele momento para mim, já havia virado paisagem para os cansados e sonolentos passageiros.

Chegando em Haia, ia eu no tram admirando a cidade no outono, as folhas no chão, as cores das árvores. Uma pergunta tilintava na minha cabeça já mais alerta: quando deixarei de ser turista nesse lugar? Quer saber? Antes tinha a maior pressa de me integrar e de achar tudo normal. Hoje espero que nunca perca os olhos de turista. Nem aqui na Holanda e em nenhum aspecto da minha vida. Não nada melhor do que o frescor de coisas novas e melhor ainda é quando você ainda encontra novidades nas velhas coisas. Sim, decidi:não quero ter uma vida de turista, mas quero ser uma turista da vida.

O primeiro compromisso terminou às 11 e eu tinha 2 horas completamente não-planejadas, não-programadas para me aventurar num terreno quase desconhecido. Não deu outra. Fui revê-lo. Calma meu povo, não fui fazer nada de errado, só fui ver ele , o mar. Peguei o ônibus e me despenquei pra Scheveningnen. Não gosto de lá. Acho meio brega, uma praia cheia de prédios, luminosos de restaurantes, mas quebrou o galho e, apesar do céu cinzento, deu pra matar a saudade dele.

Sentei num dos restaurantes bregas, pedi um capuccino e sentei novamente com o meu livro para curti um momento de solidão, mas não no sentido negativo da palavra. Para mim, muitas vezes solidão significa liberdade. Liberdade de sentir-se bem e segura estando consigo mesma. Definitivamente, não é pra todo mundo. Par alguns, o silêncio é o maior barulho de todos.

Pois sim, cheguei pontualmente ao meu agradável almoço e depois voltei pra casa, com a alma leve e a câmera cheia de fotos ; como uma turista que se preza.

Um beijo e inté,

Ah, já ia me esquecendo: tem novidade no Tabuleiro. Passa lá, leia e comente.

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