Bailandesa

Livros, pra que?

Este domingo terminou de forma estranha, com um gosto amargo de inútil vingança. Sabe aquela situação em que não há nada que desfaça o mal-estar causado? Situação em que não há nada que cole ou remende o que se quebrou. Passei por uma delas nesta semana.

Explico. Algumas amigas de minha irmã vieram para Amsterdã e tudo estava programado para nos encontrarmos e fazermos um tour pela cidade. Minha mãe, tendo uma oportunidade de mandar algo para mim e sabendo do meu voraz apetite por livros, comprou três romances e pediu às meninas o favor de trazê-los para mim.
Bom, o encontro não aconteceu e os livros foram deixados na recepção do hotel no meu nome. Liguei e perguntei se teria algum problema do hotel guardar os livros até o final da semanal, já que não moro na cidade. Também perguntei se outra pessoa poderia retirá-los no meu lugar. Muito educadamente todos os meus pedidos foram atendidos com a maior presteza. Fiquei tranquila e ainda elogiei o serviço do hotel.

No domingo, visitei alguns amigos na cidade e resolvi passar no Hotel para finalmente pegar os meus livros. Deixei o (na)marido no carro e entrei no saguão alegre e saltitante, já imaginando o cheirinho de livros novos. A primeira recepcionista me atendeu, checou e não encontrou o pacote. Voltei no carro e falei: olha, melhor você saltar porque a baiana tá pra rodar e vou precisar de alguém pra dar mais velocidade na saia.

Não deu outra: veio uma outra recepcionista mais experiente, com cara de jegue manco de gesso nas quatro patas e disse que os livros não foram encontrados e que provavelmente tinham sido jogados fora pelo pessoal da limpeza. É isso mesmo, que vocês estão lendo! Os livros, segundo eles, foram jogados no lixo. E me apontou uma plaquinha na parede indicando que os objetos deixados na recepção hotel ( leia-se bagagem e não um pacote com nome) ficavam por conta e risco do hóspede. Como se não houvessem telefonemas e um acordo de que a encomenda seria guardada por eles.

Depois de alguns segundos sem ação, imaginando como alguém poderia jogar livros fora, perguntei o famoso: e aí? Como é que isso vai ficar? Quero meu vergoeding (ressarcimento). Vem a gerente num tailleur azul marinho, cabelos curtinhos e com cara de quem acha que vai nos convencer a sair de lá só com um sorriso e um meio pedido de desculpas. e diz logo no início, que não teria como tirar 50 euros do caixa sem uma boa explicação. Como se jogar os meus livros fora não fosse motivo suficiente.

Resumo do furdunço: depois de muita saliva e holandês gasto, saímos de lá com os tais 50 euros na mão, e muita raiva e indignação no peito. O que mais me irritou? A postura. Como alguém vira pra você e diz que jogou algo seu fora com a cara mais lavada que roupa de cama de hotel e acha que está com a razão? Óbvio que niguém joga algo novo fora. Na minha opinião, os livros foram roubados.

Aprendizados:
1) Reclame, reclame e reclame, mesmo que seja num holandês paraguaio;
2) Não aceite desculpa esfarrapada. Exija o que você tem de direito
3) O mais importante: não deixe nada na recepção do Hotel Ibis

Na verdade consegui um ressarcimento financeiro, mas nada que compense o carinho que a minha mãe teve e a minha decepção.

Beijo povo, fui

Ah, já ia esquecendo: tem uns quindins novos de iá-iá no Tabuleiro.

Imagem: libreriaespanola.com.br

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