Bailandesa

Babel nos correios

Num país de dimensões diminutas – quase um Sergipe do norte – onde quase 6 por cento da população são muçulmanos, é óbvio que é fácil esbarrar em mulheres com véus. Você vê nos supermercados, nas ruas, lojas, em todos os lugares. Ontem, tive uma experiência, posso dizer bastante próxima e desastrada com a cultura muçulmana.
Num dos meus passeios ciclísticos versão all by myself, fui à agência dos correios (Postkantoor) de De Bilt. Peguei a senha e fiquei na fila aguardando a minha vez. Duas mulheres devidamente paramentadas com seus cabeças cobertas e roupas longas me perguntaram, em holandês, algo que supus ser um pedido de ajuda. Respondi em inglês que não falo holandês *ainda*. OK… passou, fui atendida pela mocinha do balcão e, enquanto preencho o meu envelope, lá vem as duas mulheres de novo. Prostam-se atrás de como dois encostos e, assim que termino o envelope, elas tentam de novo manter um contato, agora num grau bem mais íntimo. A velhinha que acredito ser a mãe da moça, me dava tapinhas nas costas, enquanto falava um terceiro idioma, que nem com Maomé na minha frente conseguiria decifrar. Ao mesmo tempo, a filha me mostra um formulário de pagamento de cartão crédito todo em holandês e pedia para eu preencher por ela. Resumo deste conto de mil e uma noites: é claro que preenchi os dados no lugar errado. Vocês pensam que ela se deu por vencida? Pegou um novo formulário e olhou pra mim novamente. Eu, já suando feito um cuscuz, fui pedir ajuda à mocinha do balcão. Sorte minha que uma senhora que estava na fila disse em inglês que já havia entendido e que iria ajudá-las. Alalaô amigos, que calor! Falei abre-te sésamo, saí de fininho reverenciando aquela mulher da fila quase como uma Meca e fui resolver outras coisas da minha atribulada vida de bailandesa.
Saí com um sentimento estranho. Na verdade, fiquei atordoada e triste. Não gosto de criticar outras culturas e religiões, mas não deu para ficar alheia à situação. Essas duas mulheres pareciam duas criaturinhas assustadas, constrangidas e vulneráveis. São duas adultas que não sabem nem ler nem escrever. Não por falta de oportunidade em função de dinheiro ou classe social, mas sim por uma imposição cultural. Sem falar no risco: elas estavam com uma fatura de cartão de crédito nas mãos. Alguém poderia muito bem pegar os dados e fazer a festa na internet por exemplo… Acho que o risco aqui é menor, mas nunca se sabe, não é mesmo?
Beijo e até a próxima

Curiosidades:

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