Bailandesa

Entrevista: Diego Figueiredo

Diego FigueiredoDono de um sorriso largo, fartos cabelos cacheados e um jeito manso de falar, o guitarrista Diego Figueiredo ainda é pouco conhecido no Brasil. No entanto, esse paulista de Franca já foi premiado duas vezes no Montreux Jazz Festival, recebeu elogios de diversos músicos importantes e levou George Benson às lágrimas.
Entrevistei Diego para o site Brasileiros na Holanda nos bastidores do Haarlem Jazz Stad Festival. Ele se apresentou ao lado de Josee Koning,  cantora holandesa conhecida como embaixadora da música brasileira na Holanda.


Ele havia acabado de voltar de uma turnê de quinze shows em Portugal, onde gravou mais um álbum. Com uma simplicidade desconcertante, me explicou: ‘os projetos vão acontecendo. Só neste ano, já foram gravados quatro cd’s. Na verdade, estou segurando os lançamentos.’


Com dezessete discos gravados, começou a tocar bandolim muito cedo. Ela fala como carinho da infância: ‘Eu comecei a tocar com 6 anos quando meu pai me deu um bandolim. Ele colocava muito chorinho pra eu ouvir.’
Encontro revelador
Multiinstrumentista, produtor, orquestrador e arranjador, ele passou por vários instrumentos até se decidir pelo violão e guitarra. Isso aconteceu após um encontro revelador no início da sua adolescência.

Por uma doce ironia do destino, o menino precoce, hoje profissional premiado, descobriu a música pelas mãos de um amador.  ‘Foi uma coisa maravilhosa. Ele era um médico, não era músico. Mas era um guitarrista sensacional, que tocava por hobby e que tinha uma maneira muito particular de tocar. A ele devo a minha cabeça musical e a minha maneira de tocar. Ele teve uma participação decisiva na minha formação’. relata Diego com sincera gratidão nos expressivos olhos castanhos.


Diego apresenta uma técnica muito singular de tocar sem a palheta.  O legado do seu professor Aroldo Garcia impressionou o grande público fora do Brasil e, além de render prêmios, lhe rendeu elogios de nada menos que Aldi Meola, George Benson, Pat Metheny, Roberto Menescal, Hermento Pascoal dentre outros.

Contrastes em harmonia

Ouvir Diego tocar é passear num tapete mágico. Às vezes ele nos leva a recantos tranquilos e segundos depois, estamos diante de uma paisagem cheia de aventuras e cores vibrantes. Explora como muito poucos as diversas sonoridades e ritmos e assim, define-se: ‘Hoje eu me resumo nisso, numa parte o vigor, na outra suavidade. Essa mescla da música brasileira com o jazz. Essa liberdade com, às vezes, um toque clássico, erudito.’


Estúdio x Palco
Seja no palco ou no estúdio, ele segue em busca do equilíbrio para performance ideal.  ‘No estúdio, o trabalho exige menos vigor e expressão do que palco. Harmonicamente falando, esse é um trabalho mais complexo. Exige mais cuidado nos detalhes’.

E depois de tantas apresentações, o palco o e o público retribuíram com experiência e aprendizados. ‘Eu não tinha tanto vigor ao tocar. Eu desenvolvi o vigor ao tocar nos palcos. O palco pede isso, o público pede isso.’


Quebrando Barreiras
Saído do país do banquinho e violão, Diego precisou vencer obstáculos para provar que podia fazer música instrumental brasileira com a guitarra. ‘Quebrei grandes barreiras.  A primeira vez foi quando eu cheguei no palco do prêmio Visa com a minha guitarra. Os jurados olharam um pro outro e se perguntaram: O que é que “eles” vão fazer? Rock? Eles nunca tinham visto uma pessoa no palco com uma guitarra sozinho.’


Não é novidade que fazer música instrumental no Brasil nunca foi fácil, mas segundo Diego o cenário está mudando. ‘O Brasil vive uma fase de novos talentos, novos instrumentistas. Acho que o nosso país vive uma das melhores fases da histórias de instrumentistas e através da internet, os talentosos artistas estão conseguindo chegar ao grande público.’
A mudança não se resume aos meios de distribuição. O público e os músicos, de acordo com Diego, também apresentam mudanças. ‘Os instrumentistas hoje não teem mais medo de mostrar a cara na mídia. A gente sabe que o povo gosta. A gente chega em qualquer palco para qualquer público, em qualquer cidade e sabe que vai agradar.’


No caminho certo
O mais evidente durante toda a conversa com o Diego é a tranquila confiança que ele tem no seu trabalho. Com ainda um longo caminho pela frente, ele fala de uma forma segura, mas singela sobre o seu futuro. ‘Estou cumprindo a minha missão de levar essa música adiante…Tive momentos inesquecíveis. Me apresentando em cidades pequenas do Brasl, ouvi muitas vezes entre lágrimas frases como esta: obrigado pela oportunidade que você me deu de saber que isso existe. Porque eu nunca iria saber. Isso foi o melhor que eu já ouvi na minha vida.- Ouvir e vivenciar isso é uma prova de que estou no caminho certo.’
Texto: Clarissa Mattos
Imagens: Ron Beenen
Entrevista publicada no site Brasileiros na Holanda

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