Bailandesa

Entrevista. Vanessa da Mata empolga Paradiso em Amsterdam

“Acho que todo mundo pode fazer música.”

Vanessa da Mata
Ela me diz que até em sonho faz música. Não duvido. A cantora e compositora que vi se apresentando, sem dúvida nenhuma, transmite sinceridade quando fala e principalmente através da sua música. Nascida no Mato Grosso, com passagem por Minas Gerais e São Paulo, Vanessa da Mata apresenta e representa a multiplicidade da música brasileira. Tendo como trilha sonora de infância os sons da Amazônia, ritmos do nordeste e tantos outras sonoridades, não podia ser diferente. Como ela mesma falou: “a diversidade é normal na minha vida. Isso sou eu”.
Se, de acordo com Vanessa, “Sim”, título do terceiro álbum, é uma resposta afirmativa à vida, o show homônimo é uma confirmação da bela produção. Um verdadeira viagem pela variedade de sons e ritmos na qual, quem esteve no Paradiso, pode embarcar. Quem assistiu o show, teve o direito a entrar no baú autoral da cantora e conhecer um pouco mais das suas intimistas composições. Ainda teve direito a uma virtuosa versão de “Eu sou Neguinha” de Caetano Veloso e até uma divertida brincadeira com “Meu Erro” do Paralalamas do Sucesso.
Tive a oportunidade de bater um papo super rápido com a cantora e conhecer também um pouco mais sobre a intuitiva compositora, que vem se firmando no cenário musical brasileiro e internacional.  Confira:

CM:O que vc achou da reação do público aqui na Holanda?
VM: Maravilhosa. Geralmente eu faço apenas um bis e dessa vez eu fiz três!

E fez mesmo. O terceiro bis arrancou lágrimas da platéia. Pude ver os olhos marejados das pessoas ao meu lado que, assim como eu, se emocionaram com a versão à capella de “Por Enquanto”, do compositor Renato Russo.
CM: No Sim, seu terceiro trabalho, é impressionante a diversidade de ritmos. Você acha que o fato de você ter vivido em diversos estados e convivido com tantos sons diferentes influencia na sua música?
VM: A diversidade é normal na minha vida. Desde muito crianca eu ouvia essa riqueza toda. Ouvi sons da Amazônia, do Nordeste, de Minas, dos gaúchos que moravam na minha cidade. Não há como não ter isso na minha vida. Isso sou eu.

Ouvindo a resposta de Vanessa, penso no  show que acabo de assistir. O interessante é que, tanto no álbum como no show, parece que todos os ritmos e sons se harmonizam e formam uma obra corajosa e consistente. Se um reagge como “Vermelho” chega de forma contagiante, os sambas  “Quando um homem tem uma mangueira no quintal” e “Fugiu com a novela” manteem o pique e encaixam-se perfeitamente com a latina rumba de “Pirraca”. Ainda há espaço para o hit “Boa Sorte/Good Luck”, composta em parceria com Ben Harper, que atualmente é muito executada nas rádios européias e até um dance, com “Você vai me destruir”.
Mas, voltando à nossa conversa, pergunto:
CM: Vivemos um boom de novas cantoras na MPB. Você se considera um pouco precursora da nova MPB feminina?
VM: Já me falaram isso antes. Bom, já falei muito sobre a composição e do fato de não tocar nenhum instrumento.  Acho que todo mundo pode fazer música. E tem que fazer mesmo. Acho que todo mundo pode ter seu público e não ter medo de ser compositora. Mas não sei até que ponto eu influencei ou não.

Durante as gravações do terceiro álbum, Vanessa foi à Jamaica e em Kingston, gravou com a Black Uhuru, banda de reaggae da qual já foi backing vocal. Perguntei como foi esse reencontro. Ela respondeu:
VM: Na verdade foi o primeiro encontro com os dois  – o baterista Sly Dunbar e o baixista Robbie Shakespeare. Quando eu cantei com a Black Uhuru, a banda já tinha se separado e a bateria e o baixo já não estavam mais com eles há muito tempo. Então foi um encontro. Como se fosse a banda inteira reunida. A oportunidade de ter os dois e mais algumas pessoas da Jamaica gravando comigo, foi como uma volta a um ciclo da minha vida.

CM: Fala um pouco sobre seu processo de criação. Você precisa de lugar e momento especiais? Precisa de tranquilidade para compor? Como você se inspira?
VM: Acontece nos momentos mais inusitados. No show da Bethânia, por exemplo, ao ouvir ela cantando um samba, nasce uma canção. Em casa com as minha cadelas, na rua, num café. Hoje mesmo de manhã, no hotel, estava cantarolando uma melodia. Perguntei pra mim mesma: “de quem é essa música?” Pensei: “Ih, é minha, é nova!”. Eu não mitifico a composição
Pra mim é uma coisa normal. Também não espero um momento certo. Eu provoco, guio.
Quem assistiu o show, teve a oportunidade de vivenciar toda a variedade musical de Vanessa da Mata e provar da atmosfera mista de doçura e força que ela traz ao palco. Com uma voz na medida certa para a sua obra, ela trouxe um trabalho autêntico que, desafiando formalidades, diz sim para o talento.

Vanessa da Mata se apresentou no Paradiso, em Amsterdã, no dia 01 de agosto de 2008, acompanhada de Davi Moraes (guitarra), André Rodrigues (baixo), Cesinha (bateria), Marco Lobo (percussão) e Donatinho (teclados).
Fotos: Ron Beenen

Sair da versão mobile