Bailandesa

Grafite brasileiro inspirando Amsterdam

Entrevista: Rafael Highraff, artista brasileiro participante do R.U.A.

Em junho desse ano sete artistas brasileiros desembarcaram na Holanda com a missão de colorir bairros menos favorecidos em Amsterdam. Os grafiteiros foram trazidos pela Caramundo, fundação responsável pelo R.U.A.- Reflexo on urban art. O R.U.A. é uma plataforma de arte urbana que promove a transformação de espaços públcos através da arte, criando assim galerias de arte ao ar livre e ao acesso de todos.
Fefe Talavera, Titi Freak, Tinho, Dedablio, Derlon Almeida, Highraff e Rimon Guimarães encararam o desafio criativo de transformar imensos paredões cinza em algo de belo para as comunidades.


 

Highraff

Encontrei com o paulista Rafael Highraff numa noite fria de um cinzento verão holandês. Ao saltar do trem foi impossível não notar um enorme painel em tons de violeta e verde que parecia trazer luz para região. Ele me parecia um guerreiro solitário que, montado no seu lift e armado com seus sprays, lutava contra o frio e o cinza ao seu redor. Ele dava o seus retoques finais, aproveitando o pouco de luz que ainda restava do longo dia de verão europeu.

Natureza como inspiração

Como muitos, Highraff começou desenhando. A experiênca da rua, aliada ao curso superior de design, formou a base da sua arte, que continua se transformando. “Sempre desenhei bastante e fiz faculdade de design. Também andei muito de skate, empinei pipa e andei muito de carrinho de rolimã. Grafite faz parte da vivência da rua e meu estilo sofreu muitas metamorfoses. No começo era mais tradicional com personagens e letras. Com o tempo, vieram outras influências como o design e a arte abstrata. Mas a minha maior inspiração é a natureza, as plantas, organismos, células e geometrias sagradas. Uma coisa meio ancestral.”

Amsterdam e o projeto R.U.A.

Highraff chegou ao projeto R.U.A. pela indicação de Ramon Martins que, por sua vez, participou da edição anterior em 2009. Essa foi a sua  estreia num painel dessas dimensões. Para isso, teve que mudar um pouco sua forma de criação. “Geralmente eu crio tudo na hora, mas me exigiram um esboço. Fiz, mas logo avisei que não sairia a mesma coisa. Claro que no resultado final existem elementos e estilo do desenho original, mas cada traço é um traço e não pode ser duplicado.”

Além de fazer uma obra de formato inédito, ele teve a oportunidade de conhecer e interagir com outros grafiteiros. Pelo visto, a experiência foi aprovada. “Foi muito bom poder fazer um painel desse tamanho, com essa infraestrutura, numa cidade legal como Amsterdam. Além disso é sempre bom viajar com a galera. A gente se divertiu bastante, mas como cada um estava muito ocupado com sua parede, não houve muito tempo de ver o outro pintar. Em casa, sim, a gente desenhava junto. Trocando os desenhos, sempre se aprende.”

Brasil como exemplo

O grafite no Brasil, diferente de na Europa, é uma forma de arte respeitada, que muitas vezes recebe suporte das autoridades locais. Existem, por exemplo, projetos no Brasil que utilizam grafite para revitalizar favelas ou áreas abandonadas. Aqui na Holanda o grafite tem uma imagem negativa e não é tão facilmente aceito, mas, se depender das reações da comunidade onde Highraff está trabalhando, a imagem já está mudando. Os moradores do bairro Lelylaan interagem diariamente com o artista

“O grafite aqui na Holanda é mais combatido e menos tolerado. Tudo depende da cultura das pessoas e de como elas absorvem a arte. A reação aqui em Lelylaan, um bairro de imigrantes, tem sido muito positiva. Tem pessoas que tiram fotos todos os dias. Outros que passam e falam good ou de vez em quando ouço um beautiful. O importante é que sempre recebo um sinal de aprovação.”
E a diferença entre fazer grafite na Holanda ou no Brasil? “Em São Paulo, a dimensão é outra. Tem mais gente fazendo. Enquanto aqui existe mais estrutura, lá existe mais  liberdade pra pintar.”

Muralismo

Quando perguntado sobre o papel do Projeto R.U.A e o futuro do grafite, Highraff enfatiza a importância de projetos como esse.
“Projetos como esse proporcionam uma compreensão do grafite, mas o grafite ilegal não pode morrer. Essa é a parada mais divertida. Se por um lado sempre vai haver alguém que não gosta, por outro lado, existe espaço pra tudo. Tem lugares que merecem uma obra mais elaborada e outras apenas uma letra. Prefiro chamar esse tipo de trabalho de muralismo. Um trabalho autorizado e com toda uma infraestrutura. Acredito que esse tipo de projeto vá crescer muito. Já está acontecendo em outros países e próprio R.U.A. está expandindo para outras cidades do mundo”.

R.U.A. Open Air Exhibition

Highraff e os outros grafiteiros voltam pro Brasil, mas as suas obras de arte ficarão em exibição. No Open Air Exhibition, será criada uma rota temporária de arte pode ser visitada de bicicleta, a pé ou de transporte público.
É muito bom ver o Brasil influenciando e inspirado outros países. Não dá pra deixar passar um eventos desses, não é mesmo?
Mais informações:
http://reflexonurbanart.org/
www.caramundo.org
Fotos: Ron Beenen
 

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