Mulher holandesa ou seria “holandeusa”? Sim, as louras altas que usam a bicicleta como um acessório de moda fazem sucesso pelo mundo afora. O clássico e nórdico modelo da mulher branca, loura e de olhos claros emplaca nas top lists de muitos. Mas será que a fórmula de sucesso se repete quando o assunto é moda? Como se vestem as mulheres holandesas?
Calma, não é assim que elas se vestem! Mas tenho um aviso importante: esse não é um texto sobre moda. Se continuar lendo, você vai encontrar as minhas observações leigas depois de 7 anos perambulando pelas ruas da Holanda. Entendido? Tudo certo? Então, podemos continuar.
Inteligente, simpática, mas descuidada
Li há alguns anos um artigo da jornalista Santje Kramer sobre a mulher holandesa. Ela entrevistou 24 estrangeiros sobre a mulher holandesa e a pesquisa resultou num livro. Segundo a jornalista, a mulher holandesa é inteligente, acesssível, mas no que se refere à forma de se vestir, ela é básica e natural ao extremo. Não usa muita maquiagem, usa o cabelo meio desgrenhado ou com uma piranha ou algo similar num coque pra lá de casual, nada de saltos e a bota é que manda no pedaço.
Imagem: Matthew Kenwrick (Flickr)
A ditadura da bota
Lembro que logo que cheguei fiquei surpresa com a onipresença das botas. Elas desfilavam pelas ruas quase que num desfile militar. É verdade, é quase inimaginável não ver mulheres com botas na Holanda. Seja de calça, short, vestido, minisaia, sarongue, biquini, quimono, não interessa: ela estará de bota. Claro, existem algumas rebeldes que usam sapatilhas e pumps (no meio tempo, era scarpin mesmo), mas a danada da bota ganha de lavagem. Ah, confesso que adotei a bota também, mas no verão desencavo minhas sandalinhas brazucas.
Imagem: Matthew Kenwrick (Flickr)
O mito da legging (branca)
Uma outra lenda da moda holandesa é a legging. Um certo dia em Amsterdam, meio que entendi o uso do polêmico acessório.
Era um dia de sol e isso era no tempo em que sol pra mim era sinômino de calor. Peguei o trem pra Amsterdam com um vestido floral, uma sandália e uma jaqueta leve. Acontece que na capital holandesa tem um vento vadio que adora lhe pegar de surpresa. Lá estava eu, morrendo de frio, com os pelos inexistentes das minhas canelas depiladas todos arrepiados.
O prazer de passear já tinha ido pras cucuias e só pensava em como resolver o problema. Tive uma luz! Entrei na Hema, loja ícone holandesa, e comprei uma legging cinza. Tomei um café no bar mais próximo e coloquei no banheiro a tal peça do vestuário, antes proibida. Que conforto! Esse foi o dia em que entendi porque as holandesas usam legging. Mas, por favor, a branca continua proibida. Pra mim e pro resto do mundo!
Cachecol, xale ou lenço?
Sim, a mulher holandesa é básica, mas ela não dispensa um paninho no pescoço. Também não interessa em que estação você esteja. Existem xales e cachecóis de todos os tamanhos, texturas e espessuras. Eu particularmente adoro e tenho muitos. Para as basiquinhas como as holandesas (e acho que me incluo, na lista), o xale transforma o look na hora. Não preciso nem dizer que no inverno é essencial, mas por outros motivos: é uma peça essencial para enfrentar o frio.
Imagem: Matthew Kenwrick (Flickr)
Mulher Holandesa: a praticidade vem antes
Minisaia e bicicleta é uma combinação pra poucas. Exige destreza, uma legging ou uma atitude “não tô nem aí”. A mulher holandesa passa boa parte do seu tempo na bicicleta. Leva crianças na creche, faz compras, vai pro trabalho e às vezes ainda dá a esticadinha à noite. Já viu, né? Elas não precisam de uma roupa, mas de um Bombril. Então podemos dizer que a bicicleta tem um papel relevante no modo de se vestir? Acredito que sim. Já desisti de usar determinadas roupas por causa da magrela. Dica: vestido envelope, nem pensar!
Imagem: Matthew Kenwrick (Flickr)
“Doe maar gewoon”
Um professor/pesquisador da Universidade de Amsterdam, Constantin-Felix von Maltzahn fez uma pesquisa sobre a identidade de moda da mulher holandesa e o resultado é que elas investem grana em roupas, mas “estar na moda” não é o mais importante. Ela quer estar bem vestida, mas nada extragavante e de maneira prática. O Calvinismo aqui também mete a colher; excessos e ostentações não são bem vistos. “Doe maar gewoon dan doe je al gek genoeg”, a famosa frase clichê que pode ser traduzida como “Aja normalmente que já é loucura suficiente” também se aplica no assunto moda.
Imagem: Matthew Kenwrick (Flickr)
Da minha experiência, o que posso dizer é que me sinto menos preocupada com o “estar na moda” aqui na Holanda. E adoro isso! Sim, às vezes me pego com olhares espantados (cheios de pré-julgamento) com as mais descuidadas. Nesses momento, tento me corrigir e celebrar a liberdade que tenho aqui de vestir o que quiser e ser como sou.