Bailandesa

Em busca de um cabeleireiro na Holanda

Bailandesa - Holanda

Cabeleireiro na Holanda não falta, mas nunca encontrei um pra chamar de meu. São sete anos de busca incessante. A cada dois, três meses revivo o drama de vasculhar a internet à busca de um cabeleireiro que seja bom e perto de casa. É, a minha vaidade não é grande o suficiente pra me fazer pegar um trem só pra cortar o cabelo.

Essa saga em busca de um cabeleireiro na Holanda já me rendeu boas histórias. Conto apenas duas aqui:

A simpática que não saber fazer escova

Um amiga holandesa me indicou um salão que, por sinal, era bem recomendado em alguns fóruns que li na internet. Já falei, né? Acho que já cliquei em quase todos os links sobre cabeleireiros na Holanda.

Cheia de esperança, peguei minha possante e pedalei pelos canais de Utrecht até o dito endereço.Chegando lá, a cabeleireira super simpática e relax, me acomodou na cadeira, discutimos sobre as minhas madeixas e depois de devidamente lavadas, começou a cortar. A conversa fluía, enquanto os cachos caíam no chão. Ele tinha ido ao Brasil e se apaixonou pelo país. Pacientemente foi cortando o cabelo e ouvindo e atendendo os meus pedidos. Até que chegou a hora de finalizar.
Ela vira pra mim e diz: olha, sou péssima pra fazer escova. Aqui, só recebo clientes com os cabelos lisos ou outras que querem muitos cachos. Moral da história: gostei do corte e finalizamos de forma meio improvisada. Agora a dúvida: fico com a simpática cabeleireira que não sabe fazer escova? Não fiquei.

Conheço você de algum lugar

Dois meses mais tarde, numa tarde de TPM no trabalho, decido: é hoje! Vou cortar o cabelo. Lembrei de um salão onde já tinha ido. O corte não tinha sido excepcional, mas também nenhum desastre.

Quem me recebe é um simpático cabeleireiro que tinha certeza que conhecia de algum lugar. Me acomodo na cadeira para lavar os cabelos, me sentindo praticamente no colo da mamãe. Cansada após uma semana de trabalho, sinto a água morna e a massagem no couro cabeludo. Estava no céu.

Até que ouço uma voz:
– Agora sei de onde lhe conheço! Do bicicletário!
Caio das nuvens e tento me acalmar: “ Mantenha a calma, mantenha a calma e não aperte o botão de ejetar”

Em fração de segundos, uma cena volta a passar na tela da minha cabeça

Estava no bicicletário discutindo com um rapaz por não estar satisfeita com o conserto da lâmpada dianteira da possante. Deixei a bicicleta e quando voltei no final do dia, a lâmpada tinha sido arrancada. Fiquei encafifada com a história e nunca mais voltei lá.
Lhe dou um stroopwafel se você adivinhar com quem foi a discussão? Sim, com o cabeleireiro.

Volto ao presente e tentando demonstrar certa naturalidade penso duas coisas: “ Tomara que ele seja melhor cabeleireiro do que mecânico de bicicleta” ou “É hoje que ele vai se vingar de mim”. Pergunto, tentando manter o ar blasé a todo custo:
– Mas aqui é bem melhor de trabalhar, não é?
Ele responde:
-Sim! Essa é a minha profissão. Só fiquei temporariamente por lá
Aliviada digo apenas pra mim mesma “Ufa, ele não teve uma carreira meteórica de empregado do bicicletário a cabeleireiro em um ano. Tenho chance de sair ainda com cabelos na cabeça.”
Quer saber o resultado? O melhor corte que já tive na Holanda até momento. A finalização não foi ao estilo brasileiro, mas saí com uns cachos de dar inveja a muito holandês.

Estamos tão acostumados com a estrutura social quase de castas no Brasil que, apesar dos sete anos na Holanda, a ideia de um emprego temporário aquém das suas habilidades de alguma forma ainda soa estranho. O preconceito não me fez enxergar a possibilidade dele ser um cabeleireiro que trabalhava temporariamente no bicicletário. Pois bem, mais uma lição da vida de imigrante.
E você já passou por situação semelhante? Ou por acaso tem um cabeleireiro pra me indicar? Só pra não perder o costume.
Atenção: as fotos são meramente ilustrativas e não refletem o corte atual.

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