O namorido* sempre fala que, desde que cheguei aqui, acontecem coisas estranhas. Primeiro foi o tempo, com temperaturas diárias 5C acima do normal, e agora as eleições. O resultado da votação de ontem mostra que este país, que carinhosamente chamo de Sergipe do Norte, é um belíssimo Boerenkaas (típico queijo holandês) ou quem sabe, um queijo coalho cortado em pedaços.
Se antes o governo era composto por uma coalizão entre democratas-cristãos e liberais. Agora uma unidade está longe de ser formada. Os Cristãos Democratas obtiveram a maioria dos votos, mas o partido socialista foi o que mais cresceu. E, para demonstrar a crise política e de identidade do povo holandês, o partido de Geert Wilders, radical de extrema direita, que quer proibir toda e qualquer imigração de pessoas de origem islâmica, conquistou 9 cadeiras num parlamento de 150 lugares. Ou seja, a tendência é deixar de comer a parte do meio do queijo e disputar as bordas.
A Holanda, como muitos sabem, é uma monarquia constitucional e as eleições de agora foram da Tweede Kamer (Câmara baixa – algo como o Congresso no Brasil) ou seja, eleições legislativas. Com este resultado, vemos um retrato de um país dividido, polarizado entre a vontade de mudança e o medo do terror. Não foi à toa que o partido socialista cresceu tanto. Acredito que o povo quer a mudança, diante de um governo que, com suas medidas duras com relação à imigração, foi de encontro ao âmago da identidade holandesa. Mas também ao vermos o crescimento de radicais de extrema direita, percebe-se, diante da ameaça internacional, o medo de um país que conviveu por 2 ou 3 gerações com uma grande população islâmica e que hoje sofre as consequências da falta de esforços, durante todos esses anos, para integrar essas pessoas.
O resultado é confuso e será difícil um consenso para se formar uma coalizão entre os partidos maiores. O negócio é esperar (e com certeza, pagar) pra ver.
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* Muita gente me pergunta porque não chamo de marido e sim de namorido. Bom, aqui na Holanda, quando você não é casado, continua-se chamando a pessoa de namorado (vriend) ou namorada (vriendin). Acho bonitinho. Então, como forma de integração chamo de namorido. Também, não estou casada. Estou (na)morando 🙂