Bailandesa

Entrevista com Maria Gadú no Viva Brasil Festival

Maria Gadu fala de música, escolhas e amadurecimento durante o Festival Viva Brasil.
“Fiz um passeio pessoal de escolhas. Resolvi silenciar um pouco a minha vida”
Morando na Holanda há quase 10 anos, nunca tinha visto a Maria Gadú ao vivo. Lembrava daquela menina talentosa e tímida que se apresentava sentada com o seu violão e que quase não ousava olhar por público. Estava curiosa. Para o meu total espanto, o que vi  no palco foi uma artista ciente do seu espaço e com domínio da sua arte. O violão ficou em casa e, armada da sua guitarra, Maria Gadú mostrou um show autoral, intenso e ousado.
No nosso curto papo, ela falou de música e dessa aventura que é amadurecer pessoal e musicalmente.
Entrevista com Maria Gadu - Viva Brasil - Bailandesa- (c) Ron Beenen
Como foi a experiência de tocar no Viva Brasil em Amsterdam?
Muito boa! O público estava muito leve, descontraído. Foi a primeira vez que a gente tocou aqui e sempre dá a insegurança do publico, né? Nós estamos conhecendo eles e eles estão nos vendo pela primeira vez, mas saí do show com uma ótima impressão.
Como é cantar para um público fora do país que não conhece o seu trabalho novo?
O público brasileiro fora do país fica mais saudoso e pode se tornar meio intolerante à novidade. Ele estranha, quer ouvir aquela canção que ele esperou anos para ouvir. Isso é absolutamente compreensível, mas como artistas precisamos bater na tecla e dizer não. Só assim podemos crescer como músicos. Por isso estou tão feliz pelo show com as novas músicas ser tão bem recebido aqui.
E os estrangeiros?
Os estrangeiros têm menos apego emocional às músicas. Isso torna as coisas mais fáceis.

E como foi essa trajetória de amadurecimento musical?
Eu era muito menina, muito tímida – ainda sou por sinal! Mas a estrada vai te dando um outro caldo. Tive que aprender a lidar com várias situações que não tinha passado antes. Assim fui desconstruindo a timidez. Ao logo desses últimos sete anos aprendi muito musicalmente. Isso só me deu vontade de estudar mais. Fui estudar guitarra e estou explorando o instrumento. A guitarra te transporta para um outro tipo de sonoridade. É um amadurecimento.

 
Como foi o processo de criacão do novo disco?
O novo trabalho tem mais intensidade, camadas, texturas. Esse processo foi abissal. Mergulhei em mim mesma. As minhas canções são extremamente autorais e tenho uma forma intuitiva de compor. É a única que sei. As canções vêm naquele momento. E olha que eu compus muito pouco nesses últimos 4 anos. Estou aprendendo a como manipular a arte. A única forma que sei compor é a intuitiva. Eu queria aprender esse lance de inventar coisas. Mas isso vai ficar pro próximo trabalho.
 
Guelã é o nome do seu novo álbum. O que significa? Por que Guelã?
Sempre tive uma coisa com fonemas. Shimbalaiê por exemplo ( risos) Com o meu retorno a São Paulo, após anos morando no Rio, encontrei com a minha família. Tenhos tios  que trabalham como médicos no parque do Xingu há muitos anos, fazendo um trabalho magnifíco. Quando revi meus tios, me deu uma vontade de rever essas linguagens indígenas. Na fronteira do Amapá com a Guiana Francesa tem uma tribo chamada Caripuna. Assim cheguei no criolo que é uma mistura da linguagem indígena com o francês.  Encontrei um dicionário deles e me deparei com o nome Guelã quer dizer a Gaivota. Tinha acabado de escolher a capa e o nome  me soou familiar. Ficou.

Como foi o processo de levar esse trabalho para o palco? 
Cuidei de tudo. Desde a direção do disco até a luz. Estou me dando a oportunidade de aprender os vários movimentos da arte. Não quero ficar presa só no papel da musicista e da cantora. A engrenagem é tão mais bonita.
A intensidade desse seu trabalho tem a ver com o momento que você está vivendo
Esse realmente é um trabalho mais escuro, com mais silêncios. Fiz um passeio pessoal de escolhas. Resolvi silenciar um pouco a minha vida. Tem uma profundidade. Não é uma opção musical; “olha esse show vai ser mais intenso musicalmente”. É tão pessoal que fica difícil de explicar.  

 
Imagens: Eric van Nieuwland & Ron Beenen

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