O negocio e’ que a cura pra isso e’ exatamente escrever. Por isso sento aqui em frente a este estranho laptop, que se recusa a aprender portugues e insiste em recusar acentuacoes. Enquanto eu me recuso a fazer aqueles atalhos de teclas e persisto em escrever sem acentos. Mas vamos em frente..
Recebo muitos emails de pessoas que pensam em imigrar para a Holanda ou para outros paises e que teem medo do processo de adaptacao, de sentir falta da vida no Brasil e etc. Elas me perguntam como consigo, quais sao as maiores dificuldades e de que sinto mais falta.
Comecei a me perguntar de que (e nao de quem) sinto mais falta. A verdade e’ que me sinto feliz aqui e `as vezes, essa sensacao de estar bem, de se sentir bem adaptada encobre as suas saudades. Elas ficam cobertas por um veu muito leve que vez por outra e’ levantado por algum estimulo.
Um exemplo: o meu ultimo carnaval em Salvador foi em 2003 e acreditem, pulei muitos carnavais! Achei ate’ que minha carreira de folia tinha terminado. Esse ano descobri a transmissao ao vivo do Terra, direto da terrinha abencoada. Ah meu povo, pra que? Levantou o veu, sacodiu a poeira, abalou a estrutura da Bailandesa. Queria me jogar na multidao, atravessando essa estranha tela. Os tambores tocaram mais alto aqui dentro e o dende borbulhou nas veias.
Comigo, a mesma coisa acontece com aromas, sabores, musicas, imagens. Sao estimulos sensoriais que me recordam momentos felizes e que expoem as minhas saudades. Isso, no entanto, nao significa que nao esteja feliz e que queira amanha atravessar de volta o Atlantico a nado. Isso e’ normal e e’ pra isso que existem ferias. Para matar as saudades das pessoas e das coisas do meu pais.
O segredo e’ claro, e’ aproveitar o melhor dos dois lugares e nao menos importante, e’ saber se ouvir e tentar entender como voce se sente. Se o banzo lhe ataca todo dia, algo esta’ errado, nao e’ mesmo? E `as vezes, a causa nao e’ o lugar onde voce mora, mas o que mora dentro de voce. Por isso, entenda a sua saudade.
Bom, enquanto as ferias nao veem, abro as portas e janelas para as saudades porque nem sempre saudade e’ triste. Pode ser bela, alegre e como diz Fernando Pessoa, consoladora.
Inte’ povo, fui
