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A crise do stikstof e a Holanda de cabeça pra baixo

Tudo o que você precisa para entender a crise de nitrogênio (Stikstof) na Holanda

Stikstof. Você deve ter ouvido essa palavra centenas de vezes nos últimos tempos aqui na Holanda. Você também deve ter visto os protestos dos fazendeiros na Holanda, fechando estradas com tratores, exibindo bandeiras de cabeça pra baixo e causando bastante confusão no país. Mas o que é stikstof? Por que os fazendeiros estão furiosos?

Bom, vamos começar pela palavra: Stikstof. Se a gente dividir a palavra, temos:

Assim, numa tradução literal,seria “pó que sufoca”. Já começou a se preocupar? Ok, mas antes de arrancar os cabelos, vamos explicar um pouco melhor esse negócio.

O que é Stikstof?

Stikstof, na verdade, é nitrogênio (N2). Lembra das aulas de química? Cerca de 78% de todo o ar consiste de nitrogênio? O nitrogênio em si não é prejudicial às pessoas e ao meio ambiente. Muito pelo contrário, não podemos viver sem ele. 

Então por que é um problema? 

O problema começa quando ele se associa a outras substâncias. Porque aí são formados  o NOx, (um composto de nitrogênio e oxigênio) e o NH3 ou amônia (um composto de nitrogênio e hidrogênio). 

O estrume é utilizado como fertilizante e evapora em forma de amônia

Um exemplo para o NOx:  quando você liga um fogão a gás, o nitrogênio se junta ao oxigênio no ar e forma o dióxido de nitrogênio.  E quanto mais forte o fogo, maior a liberação, Isso também acontece em larga escala seja nas indústrias ou no tráfego de carros e caminhões ou aviões. 

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Já a amônia (NH3) vem na sua grande parte da criação de animais ou pecuária, mas não exclusivamente.  Como assim, pecuária? Eu explico: os agricultores usam o estrume animal como fertilizante. E aí, o esterco evapora como amônia e ela é liberada no ar.

Ciclo do nitrogênio. Como o nitrogênio termina se acumulando no solo. (c) rwv.nl

Mas não só a pecuária, indústria e tráfego. O setor de construção também libera nitrogênio. Equipamentos de grande porte, como escavadeiras, caminhões, guindastes, tratores emitem uma grande quantidade de nitrogênio durante a combustão de diesel, por exemplo. E aí a consequência é que menos casas e edifícios podem ser construídos. Piorando ainda mais a crise de moradia da Holanda.

 

Onde vai parar esse nitrogênio (Stikstof)?

No final das contas, o dióxido de nitrogênio vai parar no solo. E isso, faz com que o solo se torne rico em nutrientes. Você deve achar que isso é uma coisa boa. E é, só que para algumas plantas ou as que precisam de muitos nutrientes.  As plantas que se dão bem em solo pobre desaparecem. Por exemplo, as urtigas expulsam as orquídeas. E assim, os animais que se alimentam dessas plantas também desaparecem. Em consequência, os animais que se alimentam desses animais também. Dessa forma, reservas naturais perdem a sua biodiversidade ou a variedade de espécies de plantas e animais. E no final, vai sobrar pra gente também. Afinal, a gente também faz parte do meio-ambiente, apesar de tratarmos o meio-ambiente como se fosse algo distante. Tudo é uma questão de ação e reação.

 

 E como está  a Holanda em relação a outros países da Europa?

A Holanda tem um nível de concentração de nitrogênio mais alto do que outros países europeus.. E isso acontece porque a Holanda, que eu chamo de Sergipe do Norte, é 2o exportador agrícola do mundo.   Em 2021, esse foram os produtos mais exportados plantas ornamentais (12,0 bilhões de euros), carnes (9,1 bilhões de euros), laticínios e ovos (8,7 bilhões de euros), legumes (7,2 bilhões de euros) e frutas (7,0 bilhões de euros). 

Mapa de dióxido de Carbono na Europa – Stikstof na Holanda (c) RIVM/ESA 05/2019

 

Existe uma grande concentração de gado em um número limitado de quilômetros.  E aí, pra se encaixar nas regras europeias, a Holanda vai ter que reduzir drasticamente a concentração de nitrogênio.  Uma das medidas necessárias é a redução da área de fazendas. E aí é que entram os fazendeiros em cena.

 

Por que os fazendeiros estão protestando?

O problema do nitrogênio na Holanda não é de hoje nem de ontem. Por décadas, se tenta reduzir e limitar a emissão de óxidos de nitrogênio e amônia. E até que conseguiram. No entanto, ainda é um terço mais alto do que o desejado –  de acordo com pesquisas do RIVM, Instituto Holandês de Saúdo e Meio-ambiente.

Assim, em 2015, surgiu um plano para a redução de nitrogênio ( stikstof): o PAS – Programma Aanpak Stikstof.  Verbas foram liberadas para restaurar áreas naturais. Mas ao mesmo tempo, o governo dava de antemão permissão para construção de estradas ou aumento do rebanho. E a  compensação das áreas naturais ficava para depois. O sistema, claro, não funcionou. Também, promissoras inovações tecnológicas que, no papel reduziriam a emissão de nitrogênio, não produziram a redução esperada. 


A ficha do Stikstok cai em 2019 na Holanda

Em 2019, decide-se finalmente que o sistema não poderia mais ser usado. E aí a ficha cai. Para a natureza se recuperar só tem um jeito: reduzir significativamente as emissões totais na Holanda até 2030.

O sistema muda. Primeiro é preciso provar que uma construção ou expansão de rebanho não prejudica a natureza e só depois vem a permissão.  E aí, novas construção são imacpatadas e chega-se a conclusão que o setor agropecuária tem que encolher. Claro que esa decisão não agrada o setor.

O que isso significa para os fazendeiros?

Em outras palavras, os fazendeiros terão que reduzir a sua produção. Mesmo depois de cumprirem a legislação e os regulamentos. Além de investirem pesadamente em sustentabilidade. A frustração é clara e devida. Depois de gerações trabalhando na terra, muitos não poderão deixar para os seus filhos o seu negócio. Mas o problema existe e é cientificamente provado. Também,  o setor da pecuária é onde podemos reduzir mais a emissão de nitrogênio. Afinal, 40% vem da pecuária, 40 % vêm do exterior e o restante do tráfego e da indústria.

 

Uma coisa é clara: a solução não depende apenas dos fazendeiros. E sim de todos os setores envolvidos. Além disso, é preciso melhorar e aumentar as medições. Enquanto o governo empurrou o problema com a barriga durante anos, a situação se agravou. Assim como a confiança na classe política. Os fazendeiros devem ser indenizados de maneira justa e outros setores têm que entrar na discussãoe cumprir a sua parte.  

 

A Holanda de cabeça pra baixo

Hoje, vemos diversas bandeiras holandesas hasteadas de cabeça pra baixo. Um símbolo do protesto dos fazendeiros. Realmente a Holanda reduzindo o seu setor agropecuário, me parece uma Holanda de cabeça pra baixo. Mas talvez, seja exatamente isso que precisamos.

 

 

Fontes RIVM, NOS, Rijksoverheid

 

 

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