Bailandesa

Fale com estranhos 2

I talk to strangersComo boa moradora de vila, chego no ponto do ônibus e solto um saltitante bom dia em holandês. A simpática senhora responde com um bem articulado goeiemorgen. Assanhada, engreno uma conversa sobre o atraso do ônibus e com a língua mais acordada que o cérebro, termino cometendo um erro gramatical.
Ela me corrige com uma sutileza que poucos carregam na alma. Conheço muitas pessoas que se irritariam com a situação.  Mas não consegui. Juro! Não sei se foi a lerdeza matinal ou a delicadeza embutida naquela voz macia que exalava empatia, mas simplesmente não me senti ofendida.
Ela complementa: língua difícil, não? Concordo com e adiciono que sou brasileira e que Português é muito diferente do holandês. Como num passe de mãe-de-santo ou de varinha de condão, ela começa a falar em português perfeito e sem sotaque. Esfrego os olhos, dou uma beliscadinha na perna e penso: pronto! Ainda estou dormindo e já vi que vou me atrasar. Que nada! Estava mais acordada que criança esperando Papai Noel e boquiaberta com minha mais nova vizinha e compaheira de língua.
O ônibus chega, sentamos juntas e o papo rola animado. Ela fala que seu pai trabalhou no Brasil durante muitos anos e como ela era jovem, aprendeu a falar português. Hoje aposentada, trabalha como consultora para a Faculdade de Literarura de Utrecht. Claro que tive que repetir a história da minha vinda pra Holanda. Ela ouviu com toda atenção.
A ironia desse encontro é que há algum tempo procurei através do Gilde Samenspraak alguém para praticar informalmente holandês, mas não recebi retorno. Agora tenho alguém que mora na mesma vila, que é professora de literatura e que tem interesse em trocar conhecimentos.  Juntou a fome com o apetite e a idéia é marcamos encontros onde falamos holandês e português.
Mais uma vez recomendo: fale com estranhos!

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