Bailandesa

Como lidar com uma doença terminal?

Um entre quatro holandeses desaparecem da vida de um amigo, parente ou conhecido com uma doença terminal.
Esses são dados do SIRE, instituição holandesa que promove a discussão de assuntos que afetam a vida em sociedade. Se você lê esse blog com certa regularidade, vai lembrar de duas campanhas lançadas por essa instituição: o antissocial inconsciente (“Onbewust asociaal’) e pessoas gentis (“ardige mensen).
Em dezembro do ano passado, o SIRE lançou mais uma campanha: “ Ik ben er nog” ou “ eu ainda estou aqui”. Desta vez o tema é difícil e doloroso. O contato social (ou a sua falta) com as pessoas que sofrem de uma doença terminal.

Tabu
Não, não é nem um pouco agradável ir a um hospital. Não, não é divertido o exercício de tentar encontrar palavras de encorajamento para uma pessoa com ínfimas chances de sobrevivência. E sim, é muito difícil conviver com a proximidade da morte. O primeiro instinto é de preservação, é de se afastar mesmo e muitas pessoa o fazem sem intenção. Por isso mesmo achei corajosa a ideia de explorar um assunto que é na verdade um tabu.

A campanha
Apesar de ser uma fã do trabalho do SIRE, acho que desta vez eles erraram na mão. Não em relação ao conteúdo, mas em relação à forma. Enquanto as outras campanhas eram claras e mesmo quem não dominava perfeitamente o idioma, captava a mensagem. Desta vez, ao meu ver,  a campanha não atingiu o seu objetivo. Conversei com diversas pessoas não holandesas que não entenderam a campanha e não senti o seu impacto entre os holandeses com os quais conversei.  O culpado? O próprio tema que, de difícil abordagem, torna complicado passar a mensagem, manter o bom gosto e ser efetivo ao mesmo tempo.
ik ben er nog
O que me chamou a atenção para a campanha não foram os filmes na TV ou os spots de rádio, mas as peças do mobiliario urbano, como cartazes em pontos de ônibus. À primeira vista, me lembravam as campanhas antifumo, como essas horrorosas fotos nos maços de cigarros.  Primeiro foi a imagem e só depois a frase “ Ik be er nog – ainda estou aqui” me chamou a atenção. Só então, decidi investigar do que se tratava.  O site se propõe a ser uma plataforma de informações entre os pacientes e as pessoas que os apoiam. No entanto, apesar de criativo, não é nada funcional e de difícil navegação.
Diferenças entre Brasil e Holanda
Como expatriada, sempre caio na armadilha da comparação. Assim, fiquei a divagar sobre quais seriam as diferenças entre a Holanda e o Brasil em relação ao assunto. Às vezes tenho a impressão de que, de um modo geral, os laços de família no Brasil são mais fortes – às vezes, quase uma obrigação. Por outro lado, experimento diversas gentilezas e profundas demonstrações de amizades que há muito não vejo do lado de lá do oceano.
Vejo que a individualidade aqui na Holanda é exercitada com mais intensidade. Os idosos, por exemplo, vivem de forma mais independente da família. Será que isso influenciaria no comportamento no caso de uma doença terminal? Será que no Brasil as estatísticas seriam outras?
O certo que numa situação dessas, não existe como passar uma régua e determinar um padrão de comportamento. O medo da morte e a solidariedade são universais e aqui, mais do que nunca, cada caso é um caso. O importante é lembrar que nem sempre palavras são necessárias. Pequenos gestos como um cartão, um email, flores ou apenas um carinho fazem a maior diferença.

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