Conversando com um holandês há alguns dias, ele me comentou: “Acho tão estranha a maneira como os brasileiros reagem à música.” Fiz um L com os dedos indicador e polegar, encostei o rosto nesse cômodo suporte e, com a maior cara de analista, falei: Fale-me mais sobre isso. Ele me respondeu:”Eles fazem tudo menos ouvir a música. Eles cantam, dançam, gritam, mas não param pra ouvir.”
Intrigada, tive de reconhecer que de certa forma, ele tinha razão. Mas, ao mesmo tempo, comentei como eu estranhava a maneira controlada dos holandeses de regirem à música. É muito difícil fazê-los dançar e mostrar entusiasmo além dos aplausos. Você pode botar uma batucada daquelas que o ritmo bate do fio do cabelo ao dedinho do pé e a maioria realmente não se mexe, nem com reza braba.
A diferença entre as culturas parece que salta aos olhos e pulula na nossa frente quando o assunto é a relação com a música. Enquanto nós brasileiros somos emocionais e temos a necessidade de demonstrar essa emoção (às vezes até demais!), os holandeses tem uma relação técnica e prestam o respeito do silêncio. Eles param para ouvir e são exigentes . Música aqui é coisa pra profissional, enquanto que no Brasil o que importa é a maneira como a música toca em você (sem trocadilhos). Não precisa ser perfeito, tem é que emocionar, balançar de alguma forma.
Quem nunca se irritou num show de artista brasileiro porque tem alguém gritando lindo(a), maravilhoso(a), toca isso, toca aquilo? Ou por simplemente não conseguir ouvir o artista porque tem um cantor de chuveiro do seu lado se esguelando? O outro lado da moeda foi ao assistir um show da Trijntje Oosterhuis, em que ela pedia para as pessoas cantarem, e todo mundo cantava baixinho, quase como comentendo um pecado.
Quem lidou tão bem com a tecnicidade holandesa foi o Lazzo Matumbi. Pegou o baianíssimo refrão “Vem comigo, me abraça e me beija” e com a ajuda de um espectador, traduziu e colocou todo mundo de pé pra cantar em holandês uma música baiana. Lazzo devia dar aula de integração. Ave Lazzo!
3 comments
nossa, ja me irritei muito com a interacao da plateia em shows. E quando vc compra um CD ao vivo e e obrigada a escutar gritos de “lindoooooo” no meio da musica??
Nem fala, MC!
Às vezes é meio irritante mesmo. Mas, certamente, para quem canta, sentir o calor da platéia é muito bom!
Com todos os problemas, prefiro a nosso jeito de se expressar´: é mais genuíno…
Ave Lazzo!