Bailandesa

5 coisas que aprendi morando na Holanda

Morando na Holanda há mais de 10 anos, já passei por diversas fases de adaptação. Essas desencadearam os mais diversos sentimentos: encantamento incondicional, irritação, simpatia, empatia, raiva e por aí vai. Entre relações de ódio e amor, sucesso e frustração, vi que aprendi algumas coisas.

1) Dizer não e ser sincero

Nós brasileiros temos muita dificuldade em dizer não ou discordar. Inventamos desculpas, comemos coisas que não estamos com vontade e engolimos muitos sapos sociais em nome da boa convivência. Os holandeses, nesse ponto, não encanam e dizem “não” sem nenhum pudor. Também dão sua opinião sem reservas. Se não gostam, falam sinceramente. Eu sei, às vezes eles exageram na mão e a sinceridade ultrapassa os limites dos bons modos. Mas há um lado positivo. Não há dúvidas na relação. Não há aquela história de “digo não quando quero dizer sim” e vice-versa. É tudo preto no branco. A Holanda me ensinou a dizer sim pro não.

Se adaptar e não perder as suas raízes. Esse é o desafio.

O que aprendi morando na Holanda?

Acho que hoje consigo dizer mais não e ser mais sincera, o que às vezes não é totalmente compreendido por brasileiros. Agora, sou eu a maleducada. Pois é, ser imigrante é andar numa eterna corda bamba entre distâncias físicas e culturais.

 

2) Aceitar o seu corpo e o seu envelhecimento

É fato, andamos mais cobertos por essas bandas frias de cá. Mas será que esse seria o único motivo que faz com que as pessoas não sejam tão obcecadas pela aparência na Holanda? Acho que não. Acredito que exista uma maior aceitação da individualidade e uma menor pressão da sociedade. O respeito à privacidade também tem um papel importante nessa questão. Existe menos controle social e eles não veem com muito bons olhos as intervenções cosmésticas. É a aceitação: você vai envelhecer. Esse é o processo natural da vida.

No Holanda existe menos pressão social. A aparência é menos importante. (c) Ron Beenen

O que aprendi morando na Holanda?

Como há menos pressão social, me sinto mais livre e sinto que me preocupo menos com quilinhos a mais e outras neuras que tanto me incomodavam quando morava no Brasil.Calma lá!  Isso não significa que “não estou nem aí”. É uma questão de referência. A aparência não é prioridade número 1. Não sinto que serei julgada a cada momento. O estresse só volta quando sei que vou de férias pro Brasil. Aí já sabemos como o negócio funciona.

3) Dar menos valor à aparência

Unhas feitas, cabelos impecáveis, roupas da moda, carro novo, óculos de sol, relógios….Esses e tantos outros símbolos de status tão presentes na minha vida no Brasil despencaram no ranking do meu dia-a-dia. Não que  já desse muita importância a eles, mas sentia presença constante de tudo isso na sociedade brasileira. Não é que eles simplesmente inexistam por aqui. Existem sim, mas não são tão relevantes.

Morando na Holanda, aprendi a valorizar meus cachos

O Calvinismo deixou suas raízes na cultura holandesa. Trabalhar duro, viver de forma frugal e sem exageros são valores que estão entrelaçados ao modo de vida da Holanda – mais do que imaginamos. O lema “ Doe maar gewoon, dan doe je al gek genoeg”  (Agir normalmente,  já é loucura suficiente) ainda exerce seu papel na sociedade holandesa e excesso e ostentações não são bem vistos por aqui.

O que aprendi morando na Holanda?

Deixando os extremos de lado, admiro a forma como as pessoas geralmente não são julgadas pelo que vestem ou o que têm. É sempre assim? Claro que não: inveja, despeito e preconceito estão presentes em qualquer sociedade.  Mas posso dizer que as obrigações com a aparência são menores e aprendi a repetir roupas sem culpa, frear o impulso do consumo e também frear a tendência de fazer pré-julgamentos baseados na aparência das pessoas.

4)  Frugalidade. Aproveitar as coisas simples e de forma mais simples

Costumo dizer que a Holanda é uma fazenda salpicada de cidades. Acho que esse lado bucólico do país contribui para que algumas coisas simples da vida sejam valorizadas. Adoro alguns pequenos cuidados que vejo por aqui: colocar alimento para os pássaros no inverno, o cuidado com flores e plantas em geral, o carinho com as casas.

Aqui na Holanda, flores quase que substituem palavras

Os holandeses também não são famosos por sua sofisticação. Na mesa, as coisas são servidas de formas mais prática e sem frescuras. Tá bom, às vezes até demais. Já reclamei muito pelo falta de guardanapos. Mas tem hora que o melhor mesmo é relaxar e aproveitar o momento, sem tantas regras e pompas.

O que aprendi vivendo na Holanda?

Não tenho dedos verdes, mas aprendi a admirar e aproveitar os pequenos prazeres e ter uma varanda florida, sentir na pele os primeiros raios de sol  da primavera e acordar com o canto dos pássaros. Ou seja, aprendi a admirar os pequenos e simples prazeres da vida. Também vejo que me tornei mais prática em todos os sentidos.

5) Tomar menos remédios

Sempre digo que a filosofia da saúde da Holanda é o maior desafio da integração. Reclamo o tempo todo da relação dos holandeses com a dor e de como eles dão pouca importância a muitas queixas. Mas o extremo holandês me fez ver que na verdade eu tomava muitos remédios. Demais mesmo! As farmácias no Brasil são quase supermercados e tomamos muito e a todo momento remédios.

Holandeses evitam tomar muitos remédios

O que aprendi vivendo na Holanda?

Que nem sempre preciso daquele anti-inflamatório. Um paracetamol à vezes resolve o problema. Pensar duas vezes antes de correr pra farmacinha faz bem. Mas existe o outro lado da moeda: tem momentos aqui na Holanda em que você tem que insistir sim e exigir aquele remédio ou a atenção do médico, seja um especialista ou médico de família,

Tudo é uma uma questão de referência

Para mim, o maior aprendizado foi enxergar que tudo é questão de referência.  Quando nos chocamos com uma situação, é hora de lembrar que o choque pode ser recíproco. Quem está do lado oposto pode também considerar o nosso normal como extremo. Assim, ao analisar os extremos podemos chegar mais perto do equilíbrio e ter um experiência mais rica.
E você o que já aprendeu visitando , morando na Holanda ou em outros países?

 

Blogagem Coletiva

Esse  artigo foi atualizado em 30.05.17 e faz parte de uma blogagem coletiva de várias mulheres, brasileiras e blogueiras, que também cruzaram o oceano e se aventuram diariamente a viver nesse país de dimensões minúsculas e que tem diferenças culturais gigantescas em relação ao Brasil. Não deixe de conferir o que elas aprenderam:

Sair da versão mobile