Bailandesa

Os meus 50 anos na Holanda. Confissões de meia-idade.

O temido dia chegou. Foram meses de ìncredulidade. Como assim, 50 anos?  50 era o marco da velhice, o começo do fim. Na minha adolescência, me imaginava com óculos redondinhos pendurados no nariz, com um coque grisalho, sentada numa cadeira de balanço tricotando. Bem, os óculos  chegaram e já fazem parte do meu visual, mas os grisalhos estão sem pressa e os cabelos continuam soltos na maior parte do tempo. Agora, os tais, 50? Esses sim, armaram a rede e se instalaram na minha vida.

E os 50 anos chegaram e a felicidade continua – (c) Bailandesa.nl

Eu não queria festa. Queria que essa fosse uma terça-feira comum. Ao mesmo tempo, no fundo, no fundo, não queria passar a data em branco. Assim, me sentia num dilema: os 50 palpitavam na garganta, mas queria comemorar de alguma forma meu aniversário.

A tradição dos 50 anos na Holanda

Tinha mais uma: morando na Holanda, ainda temia encontrar uma boneca inflável gigante   em frente à casa. Essa é  uma tradição holandesa (meio masoquista ou sarcástica) para celebrar a passagem desse marco na vida,. Eles colocam uma boneca inflável na porta  simbolizando a Sara, a figura bíblica. E os homens ganham um Abrãao. Mas não, não teve boneca, mas isso não quer dizer que não teve surpresa.

As surpresas

À meianoite, enquanto escovava os dentes, na esperança de adormecer rápido e pular a data, um gigante 50 inflável  verde metálico invadiu o banheiro. De repente, entendi que nao dava para fugir (e nem precisava). Abracei o temido número, tirei foto, mandei para a família via WhatsApp  e me olhei no espelho. Na verdade, enxerguei que nao havia o que temer, mas sim de se orgulhar. Gostei do que vi e me senti segura em compartilhar e testemunhar os meus 50 anos – que, agora chamam dos novos trinta ;).

Um gigante 50 apareceu à meia noite e eu abracei a minha nova idade

Pensam que a surpresa acabou por aí? Nada! Ainda ganhei um inesperada festa, que reuniu as pessoas mais queridas. Acordei no dia seguinte, me sentindo cheia de energia e com a segurança reabastecida e redobrada. Os 50 passaram e o que ficou foi uma consciência ainda maior de que o tempo é escasso e não dá pra dizer sim pra tudo e não pra quase nada. Retomei as rédeas do meu relógio e hoje, eu sou a dona do meu tempo e da minha idade. Ninguém me define.

Até a próxima década.

PS: Olha o que eu escrevia há 10 anos 😉

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