Bailandesa

Coluna: On-Nederlands. O complexo de vira latas holandês

Crescemos ouvindo que o brasileiro tem complexo de vira latas. Que nos sentimos inferiores e  que o nosso ideal de perfeição está acima da linha do Equador. Nelson Rodrigues, na sua lendária crônica de 1958, define muito bem esse sentimento. Agora, o que aconteceria se os gringos também se olhassem no espelho e sentissem assim?

O complexo de vira latas holandês

A imagem que sempre tive dos holandeses foi a de exploradores, duros negociantes, com a auto-estima lá no espaço. Aqueles que não sabem pedir desculpas e tem orgulho do seu país pequenino e organizado.

O holandês é avesso à ostentações. (c) sabina Fratila – Unsplash

Mas o tempo passa e a gente vai convivendo com as pessoas e aprendendo sobre a cultura do país. Assim, me deparei várias vezes com a palavra  On-Nederlands. Ela significa, ao pé da letra, não-holandês. Ou seja, é uma coisa que não é tipicamente holandesa.

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Bom demais pra ser Holandês

Mas como essa palavra é usada? Em quase todas as vezes que a vi sendo usada, foi no sentindo de algo ser “bom demais para ser holandês”. E aí vem a expressão “On-Nederlands goed”, que quer dizer “tão bom que nem parece holandês”.

A expressão é  muito comum no setor cultural. Ou seja, quando um livro, uma banda ou um filme é muito bom, é uma produção de uma qualidade internacional e não made in nossa querida Disney do Queijo.

Complexo de mediocridade

Aí eu me pergunto: Será que o holandês tem complexo de vira-lata? Ou seria um complexo de mediocridade? No sentido de média mesmo.  A cultura holandesa de renegar ostentações,  de não se sobressair, de permanecer na média, faz com que as coisas boas que aqui são produzidas sejam classificadas como “on-Nederlands goed” ou “bom demais pra ser holandês”.

Será que o holandês não se vê capaz de sair da imagem de comedor de batata e cabeça-de-queijo? Onde está o peito estufado diante da Era de Ouro dos Mestres holandeses ou da maestria no controle das águas ?

A grama do vizinho

E aí eu volto pro Brasil. Quantas coisas excelentes temos no nosso país que ignoramos ou não valorizamos porque o eldorado está debaixo de quilos de neve e sob temperaturas geladas?

O melhor é aproveitar o melhor de cada país e cultura. (c) davidson Luna – unsplash

Dois aprendizados: o primeiro é aproveitar o melhor de cada lugar ou cultura. Ninguém é perfeito em tudo. As frutas do Brasil não podem ser comparadas com o queijo holandês.  O segundo é que  a grama do vizinho será sempre mais verde se, enquanto olhamos pra grama dele, não molharmos a nossa. 

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