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Vivendo na Holanda e aprendendo com uma holandesa no Brasil

keukenhof - Mulher num jardim de tulipas rosas

Vivendo na Holanda há 12 anos, continuo aprendendo. Dessa vez, com a experiência de uma jornalista holandesa que vive no Brasil. Ela escreveu um artigo sobre a forma de cumprimentar e se relacionar no país. À medida que ia lendo o seu artigo, me via recém-chegada na Holanda tateando no quarto escuro de um novo país. Ao mesmo tempo, enxergava o Brasil pelas seus olhos, que me serviam como lentes de aumento.

Cheguei na Holanda com a vida em duas malas e um mundo de coisas pra aprender (c)Bailandesa.nl

Vivendo na Holanda e aprendendo as regras sociais

Nos primeiros meses vivendo na Holanda, ia aprendendo aos poucos as regras sociais, inclusive como cumprimentar as pessoas. Assim, deixei um rastro de gente encabulada com os meus beijos inesperados e a minha intimidade inoportuna. É que na Holanda, ao contrário do Brasil, os beijinhos (e aqui são três!) são cumprimentos reservados para família e amigos íntimos. Aqui, a regra para cumprimentar quem você não tem intimidade é o aperto de mão.

Muitas vezes amigos também só dão um beijo – (c) Bailandesa.nl

Leia também: Beijinhos ou aperto de mão. Como se faz na Holanda?

Brasil e Holanda. Como cumprimentar as pessoas em outro país

Quando li num jornal holandês as impressões da jornalista holandesa sobre a forma de se relacionar no Brasil, não pude deixar de pensar nos meus primeiros meses vivendo na Holanda. A sua surpresa com a informal cultura de cumprimentos no Brasil me lembrou como achei distante o tal aperto de mão holandês.  À medida que ia lendo, as palavras iam reavivando a minha insegurança quando encontrava uma pessoa pela primeira vez.

O aperto de mão é o cumprimento mais seguro – (c) Bailandesa.nl

Como cumprimentamos, ou melhor, quais pessoas cumprimentamos no Brasil?

Mas o texto também me fez refletir sobre maneira contraditória de cumprimentar no Brasil: dou beijinhos imediatos em um estranho, mas dou um bom dia bem ligeiro no porteiro que vejo todos os dias. Tasco beijinhos nos colegas de trabalho, mas às vezes não dou nem um olá à funcionária responsável pela limpeza.

Será que o cumprimento na Holanda reflete o grau de intimidade e no Brasil, a diferença de classes?

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A experiência da jornalista holandesa

A jornalista ficou confusa ao perceber a desaprovação da amiga, quando ela recebeu um abraço do porteiro ao se despedir para uma viagem. Numa outra situação, ela recebeu dois beijinhos de todas as pessoas numa reunião, e percebeu o mal estar porque ela queria dar dois beijinhos numa funcionária da limpeza.

A forma calorosa brasileira de cumprimentar (c) Bailandesa.nl

 

Regra tácita

O povo brasileiro é conhecido pela informalidade, pela forma espontânea de se expressar e calorosa de se relacionar, mas parece que existe uma regra tácita de como cumprimentar as pessoas: beijinhos ou abraços pessoas da mesma classe – ou superior.

Você já leu? Cumprimentos na Holanda. Um verdadeiro aperto.

Como cumprimentar no ambiente profissional ou privado. Faz diferença?

A primeira justificativa que me vem à cabeça é: mas esse é um relacionamento profissional, não devemos misturar. Aí, me lembro imediatamente, como beijinhos no ambiente de trabalho são comuns no Brasil, como assinamos emails com beijos e abraços, recebemos e retribuímos beijos e abraços em médicos e dentistas. Ao mesmo tempo, me recordo de raras vezes em que  abracei um porteiro do meu prédio ou o pessoal da limpeza do escritório; muitas vezes, nem mesmo no dia do aniversário.

Amigos na Holanda (c) Bailandesa.nl

E como fica a outra parte?

O triste é que o mecanismo de separação social é tão intrínseco que, muitas vezes, a sensação de desconforto é recíproca.  

É quase como se houvesse uma trincheira de arame farpado. As farpas do preconceito alfinetam e ferem os dois lados.

 

Mudando o foco para aprender

Quando estamos nos adaptando a um novo país, olhamos tudo sobre o nosso ponto de vista cultural, pela nossa perspectiva. Assim, tendemos a classificar coisas em o que é certo é errado, de acordo com os nossos costumes, valores e cultura.  Às vezes, é bom ouvir as experiências de estrangeiros no nosso país para aprendermos ainda mais sobre nós mesmos. E ter sempre em mente que a nossa surpresa com os costumes de um outro país quase sempre será uma reflexo da surpresa do outro com a nossa cultura.
Você está vivendo atualmente  na Holanda ou em um outro país? Como está sendo o seu processo de adaptação? Compartilhe a sua história com a gente

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