Depois do comentário deixando ontem (veja abaixo), não resisti e tive que postar esse video, cujo o autor publicou no YouTube sob o título : Bang voor Rita ( medo de Rita).
“Maravilhoso o teu texto sobre as eleições hoje aqui na Holanda. Eu tenho dito: Tenho medo da Rita Verdonk! “
É ou não é de dar medo?
beijo, fui
4 comments
Tita querida,
Após ler seu blog bastante pertinente não resisti a te enviar minha opinião.
Outro dia o meu filho, 9 anos, voltou da escola chateado porque a responsável pela vigilância das crianças na recreação cortou sua fitinha do Senhor do Bonfim que ele trouxe do Brasil com tanto carinho, havia feito seus pedidos, por incrivel que pareça todos em relação à escola : tirar boas notas, obedecer à professora, passar de ano… Ele não soube me explicar o motivo para tal gesto. Desconfiada, herança mineira certamente, pensei logo se nossa famosa fita do Bonfim (bem conhecida na França pelos turistas franceses que têm verdadeira atração pelo Brasil e pelo nordeste brasileiro), não teria sido considerada um « simbolo ostensivo de religião » que tem causado tantos debates neste momento, às vezes de maneira irracional a meu ver. Eu, com meu sangue baiano correndo nas veias, apesar de desenraizada desde nascença, fui à escola tomar satisfações. Tentaram me explicar por a+b que as crianças estavam brincando de se enforcar (sic) ….. e que por este motivo… etc, desculpas esfarrapadas mas que achei melhor aceitar para não brigar.
Isto me fez refletir sobre este assunto tão complexo, que tem causado discussões calorosas, que fogem muitas vezes da questão essencial e acabam se transformando em debate politico, maniqueista, etc. Tentando raciocinar de maneira « cartesiana » procurei entender em primeiro lugar a questão da laicidade na França que tem uma longa tradição de oposição à religião, seja ela católica ou musulmana e seu conjunto de valores comuns de respeito, tolerância e diálogo. Reconheço que o véu islâmico está na origem destes debates e que a lei sobre a laicidade votada em março de 2004 foi feita sobre medida em volta do mesmo, o lenço será o único verdadeiramente atingido por esta lei mesmo se a ela se apresenta como abrangente. Por sua vez a França reconhece o islã enquanto religião oficial mesmo sendo um país onde há separação entre estado e religião. Dentro da lei sobre a laicidade o islã está em pé de igualdade com as outras religiões reconhecidas pela França como o catolicismo, protestantismo ou judaismo. Teoricamente os musulmanos não deveriam se sentir visados diretamente, no passado os padres tiveram seu combate contra a laicidade. E para os defensores desta lei o simples fato de não se usar o véu não dará à esta comunidade uma identidade puramente francesa ou alemã, etc.
Porém esta lei tem sido vista como uma regressão pelos musulmanos, apesar de não se tratar de uma lei sobre o véu islâmico mas de uma lei sobre os símbolos religiosos ostensivos nas escolas : crucifixo e kippas (quipás) são também proibidos. Nossa sociedade (viu a minha integração ?) escolheu ter um espaço neutro, onde todos devem receber um ensino commum, onde futuros cidadões são educados e se preparam para viver numa sociedade leiga dentro do respeito da liberdade religiosa, adquirindo assim uma capacidade de livre escolha sobre a vida fora da escola. A escola leiga é uma escola que é aberta a todos. Isto não deveria colocar em dúvida a crença de cada um. Como diz um filosofo francês, « Na escola há alunos, e não judeus, musulmanos, cristãos ou ateus. Eles estão ali para se instruirem e tornarem-se homens livres…. sobre todos os pontos de vista ».
Apesar de bastante dividida sobre o assunto pois defendo o ensino leigo, lhes permitir o uso do véu é um sinal minimo de tolerância e bom senso em relação a estas crianças, que são antes de tudo crianças e que devem ser respeitadas como tais. É recebendo-as na escola leiga que podemos ajudá-las a se emanciparem dando-lhes meios para que adquiriram autonomia. Excluir estas crianças é condená-las à opressão, elas não deveriam ser tratadas como ameaça e sim como vitimas. Se a questão é de escolha pessoal ou não, auto-persuasão familiar ou não, é uma outra discussão. Excluir é condená-las à permanecer no meio ambiente de origem. Escolarisá-las é dar-lhes uma abertura sobre o mundo, exclui-las é atirá-las nos braços dos movimentos integristas.
A meu ver o debate encobre um fundo racista, fala-se muito da escola leiga mas nas cantinas das escolas organizam-se ceias de natal, festa de páscoa, decoram-se as escolas com árvores de natal e as férias escolares caem « coincidentemente » durante o período das festas cristãs, o calendário escolar é organisado em função da tradição cristã, a escola particular católica recebe subvenções do estado, etc. portanto a laicidade deveria mas não é a verdadeira razão para a proibição do véu na escola, o qual representa o islã visivel perante uma instituição sagrada que é a escola, que se sente incomodada suscitando assim manisfestações de racismo anti-musulmano.
Beijos. Noélia
É Nó, acho que as coisas estão fugindo ao controle. Imaginem! Uma fitinha do Senhor do Bonfim. O pior que foi retirada sem consultar você, a mãe e responsável e sem explicar à criança o real motivo. Claro que ele tinha que estar chateado!
Concordo com você quando diz que o que encobre este debate é o preconceito e a intolerância. Acho que as crianças deveriam desde cedo aprender que vivemos num mundo formado por pessoas diferentes em raça, religião, culturas, gostos, seja lá o que for. A exclusão dos ditos “símbolos religiosos” da escola, para mim soa como criar uma bolha em que as crianças não aprenderão a lidar com as diferenças e se tornarão intolerantes. Preguiça educacional temperada com muito preconceito? Talvez. É mais difícil educar pra aceitar e respeitar o próximo da maneira que ele é.
Adorei a sua visita e o seu comentário. Volte sempre e sempre.
Beijos, saudades
Gente!!!!!
O que se pode comentar mais depois de opiniões tão inteligentes e conscientes da realidade.
Concordo que esse posicionamento não tem nada haver com integração. A Noélia expressou maravilhosamente o efeito colateral disso, seria maior exclusão, visto que as crianças ou deixariam de frequentar a Escola ou se submeteriam até a uma crise de identidade futura.
Eu fico boba que depois dos horrores da segunda guerra, a Europa está se encaminhando para um verdadeiro apartheid social.
Abraços.
Opa, chegou mais uma baiana inteligente 🙂 Também me estarreço com a evolução dessa saga ensadecida iniciada pelo louco Bush. Só espero que, com a vitória dos democratas no EUA, as coisas tomem outro rumo e que os reflexos sejam sentidos em todo o mundo e claro aqui na Europa.
bjs