Como acontece o funeral na Holanda? Como os holandeses lidam com a morte? Quais são as diferenças culturais entre a Holanda e o Brasil? Quais são os costumes holandeses. Pra saber mais continue lendo.
A música quase embalava meus pés e nas minhas mãos tinha um coquetel que era o seu favorito. O restaurante tinha nome e ares franceses. Croissants e madeleines passavam no canto do meu olho. Olhos desatentos pensariam estar numa festa mas, o vai-e-vem das pessoas que se revezavam no palco, denunciaria o motivo da reunião. Elas chegavam ao palco e prestavam a última homenagem a amiga, mãe, colega, prima que, nos mínimos detalhes, escolheu o seu jeito de se despedir de todos.
Em mais de dez anos de Holanda vivi a morte de diversas maneiras. A pior delas foi perder meu pai enquanto estava no outro lado do oceano. Esse é o pesadelo de todo imigrante: estar distante num momento como esse. Mas houveram outras experiências e bem diferentes do que conhecia no Brasil. No ano passado perdemos dois amigos e mais uma vez vi bem de perto o mar de diferenças que existe entre Brasil e Holanda quando o assunto é lidar com a morte.
A morte como algo natural
Sempre admirei a naturalidade com que a morte é encarada (e discutida) aqui na Holanda. No Brasil o assunto sempre foi e ainda é um tabu. Algo que evitamos pensar e falar sobre. Falar sobre a morte é algo mórbido ou para muitos “traz mau agouro”. Lidamos com a morte como se fosse uma probabilidade e não como uma certeza.
No Brasil, tudo acontece muito rápido. É quase como se fosse uma forma de passar pela dor o mais rápido possível. Lógico que o clima tropical, a falta de estrutura ou tradição para aguardar mais dias contam; mas, para mim, vai além disso. Sinto que não conseguimos lidar bem com a dor. Seja ela física ou emocional, é preciso evitá-la, escondê-la ou passar por ela o mais rápido possível. Vejo que na Holanda as pessoas temem menos porque são mais expostas à dor e aprendem a lidar melhor com ela.
Costumes do funeral na Holanda
A cremação corresponde a cerca de 60% dos funerais, mas o funeral na Holanda não acontece tão rápido como no Brasil. Ele acontece em média cinco dias após o falecimento. Nesse período, a família organiza a cerimônia, envia cartões com detalhes e instruções da cerimônia e, mais importante, se despede da pessoa. Na maiorias das vezes, o corpo fica num lugar onde as pessoas podem se visitar em horários específicos. Às vezes, esse lugar é a própria casa.
É comum acontecer uma cerimônia antes do enterro ou cremação. Essa é a oportunidade das pessoas prestarem homenagens ou lembrarem os bons momentos que passaram com a pessoa que se foi. Isso inclui crianças, que também vão aos funerais. A cerimônia pode ou não ser religiosa – vale lembrar que cerca de metade da população holandesa não tem religião.
Em alguns casos, acontece um cortejo onde as pessoas acompanham o carro da funerária até o local do funeral – um símbolo da última viagem. Um outro costume é depois do funeral as pessoas se reunirem para um café ou drinques.
Na minha experiência, não existe fórmula ou uma regra a seguir. Todos os funerais que fui aqui na Holanda só tiveram uma coisa em comum: foram super pessoais, íntimos e tenho certeza que aconteceram exatamente do jeito que essas pessoas quiseram.
Planejamento versus improvisação
Testamento, seguro funeral, conversar sobre o desejo de doar ou não os órgãos não fazem parte dos costumes brasileiros. Na Holanda, além do testamento, existe a opção de deixar um memorando com os seus desejos, mas também todas as informações práticas que podem ajudar os familiares como contas de banco, senhas, apólices de seguro e etc.
O seguro funeral (como seguros em geral) faz parte da cultura do país. Para se ter uma ideia, 60% das famílias holandesas têm um seguro. Um funeral custa em média 7.500 euros na Holanda e muitos não querem deixar um encargo desses para a sua família. Existem diversos tipos de seguro e esse é um grande negócio. É muito comum vermos comerciais de TV de seguradoras
O planejamento faz parte da cultura holandesa. A improvisação da brasileira. O que muitos esquecem é que como não estarão presentes, parentes e amigos ficarão com o ônus de fazer escolhas num momento tão difícil. O que a Holanda me fez ver é que fazemos diversas escolhas durante as nossas vidas: nossa profissão, onde e como vamos morar, para e com quem vamos viajar. Não seria lógico planejarmos também como vamos nos despedir da vida que escolhemos?
O que você acha? Você já foi a algum funeral na Holanda ou em outro país? Como foi a sua experiência?
Existem muitos outros assuntos relacionados com tema que merecem ser explorados, como a eutanásia, mas esses merecem mais atenção e um post exclusivo.
7 Comentários
Meu marido faleceu em 15 dias em Bussum.
Inesperadamente.
Fiz td dentro da cultura holandesa!
Vc, descreveu com grandiosidade!
Parabéns.
Sou sua fã!
Abraços,
Tania.
Oi Tania,
Muito obrigada eplo elogio. Fico até tímida :). Fico feliz que os meus textos lhe agradem e sejam úties para você.
Lhe Desejo muita paz e sinto muito pelo seu marido.
Volte mais vezes.
Meu avô era Luxemburgues e viveu seus últimos anos na Alemanha. Pelo menos 15 anos antes de falecer já havia planejado e nos orientado sobre todos os detalhes envolvendo a sua morte. Deixou os valores separados, todo o processo de cremação pago. Conto isto no Brasil e as pessoas se assustam mas é a mentalidade européia em relação à morte.
Oi Michelle, realmente a cultura europeia é completamente diferente. Percebo que muitos confundem naturalidade e planejamento com frieza.
Obrigada por compartilhar a sua história.
Volte sempre!
No meu País deixam tudo pra última hora, é um Deus nos acuda embora todos saibam que a morte é a unica certeza.lembro bem do Caco (Miguel FalabellA) quando fazia a satira no programa Sai de baixo a diferença de comportamentos e situacoes entre a França e o Brasil. .e vejo que realmente era real.
Oi Dora, realmente há um oceano de diferenças entre países Europeus e o Brasil. Obrigada pela sua visita e comentário,
Volte mais vezes!
Oi Dora, realmente há um oceano de diferenças entre países Europeus e o Brasil. Obrigada pela sua visita e comentário,
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