Tenho conversado com algumas pessoas que acabaram de chegar na Holanda e elas sentem as mesmas angústias que tive quando recém-chegada: é o visto definitivo que não sai, é a pressa para trabalhar, a vontade de dormir e acordar na manhã seguinte falando holandês fluentemente e o mais importante de tudo, se sentir em casa num país estranho.
Bom, não sei se traquiliza ou piora a situação, mas mesmo após mais de dois anos aqui, trabalhando na mesma área em que trabalhava no Brasil e arranhando um holandês longe do fluente, ainda não me sinto em casa. Isso não quer dizer que não esteja bem ou que não me sinta feliz. Estou encontrando o meu caminho aqui, mas chamar de casa é uma coisa bem diferente.
Descobrindo novas habilidades
Isso pode trazer algumas vantagens. Sinceramente acredito que um pouco de desconforto faz com que cresçamos. A aventura de mudar para um lugar diferente nos torna mais tolerantes e muitas vezes nos faz descobrir habilidades e potencialidades antes impensadas. É um recomeço, cheiro de coisa fresca e onde tudo é possível. Vejam só:
- Nunca pensei em escrever. Na minha profissão, sempre avaliei textos de outras pessoas. Hoje escrevo aqui no peripécias, ganhei um concurso de poesia e escrevo para outros lugares.
- Nunca imaginei que entrevistaria alguém na minha vida. Desde que cheguei aqui, já fiz pelo menos umas 3 entrevistas.
- Jamais passou pela minha cabeça trabalhar num festival de música. No ano passado trabalhei no The Hague Jazz e me diverti (e também me estressei) bastante.
- Sempre odiei fazer traduções e jamais quis trabalhar com isso. Continuo odiando, mas também já fiz desde que cheguei aqui na Holanda.
- Apesar de amar Português, nunca achei que algum dia daria aulas da nossa amada língua. Não é que apareceu a oportunidade e me diverti bastante.
Então, quando bate aquela sensação ruim de que ainda não é o que eu queria, quando acho que meu holandês deveria estar melhor e que sempre vou me sentir como uma estrangeira e tudo o mais, faço a famosa listinha acima e vejo que o mais importante não é chegar lá, mas se divertir e crescer no caminho.
Geniet ervan! (Aproveite!)
11 comments
Das angustias dos recem-chegados, compartilho mais a do idioma. Tenho dias otimos em que entendo tudo e falo bastante, e outros que nao entendo nada e nao quero falar!
Quanto a se sentir em casa, acho que realmente leva tempo. Mas acho que os momentos em que vc se sente bem tem que ser mais duradouros do que os que vc se sente mal.
Em casa, em um país estrangeiro, onde quer que esteja, o importante é se sentir feliz, estar com quem se ama e saber que stá seguindo o seu caminho.
O resto você tira de letra maninha!
Bjks
Acho que o grande negócio é a gente imaginar o mundo como a nossa grande casa, nosso lar, onde existem mil possibilidades e portas a se abrirem, para que a gente se sinta cada vez mais à vontade, através do conhecimento de novas culturas, hábitos, línguas, pessoas e lugares.
Bjos
Sabe porque NÃO gosto de ler seu blog? Porque acaba me dando uma saudade ROXA de você! :o)
Escrevendo cada dia melhor carríssima! Continue aumentando a lista do “nunca imaginei” Me serve de inspiração que nem te conto…
Grande beijo!
Muito bom… Excelente página… Acabaste de ganhar mais um fã…. Bjsss
Bailandesa, cheguei há dois meses aqui. Acompanho seu posts já faz um bom tempo. Sinto as mesmas angústias, medos e inseguranças. Penso que é realmente uma aventura após ter passado por provas, testes, gasto um bocado de dinheiro. Eu também não imaginei fazer algumas coisas, na primeira semana que fiz um teste para fazer a voz da Anne Frank em português do Brasil. Sei que ainda vou fazer muitas coisas assim como você. Obrigada por compartilhar as suas experiências.
Abraços
Ana
Oi Ana,
Obrigada por chegar até aqui e ler o blog! É isso aí: mater o espírito aberto para novas experiências. Você não faz ideai o quanto você vai enriquecer a sua vida e aprender sobre si mesma!
Volte sempre!
Lieve Bailandesa,
Com certeza, e ler seus posts é muito inspirador. E cada dia é uma pequena batalha vencida. Cada dia que piloto minha bicicleta no trânsito maluco de Amsterdam sem cometer grandes gafes percebo estas pequenas evoluções, que nunca pensei que fosse ter que lidar! Quando consigo dizer algumas frases me holandês e as pessoas me entendem é como uma luz abrisse dentro de mim. Fico imaginando quantas pessoas compartilham deste mesmo sentimento. Quando li o que você disse sobre os guardanapos, sobre os holandeses serem diretos e que as vezes pode machucar um pouco. Muito obrigada por compartilhar estes mínimos detalhes que as vezes achamos que realmente não iremos nos adaptar. O que não devemos esquecer que o tempo sempre estará ao nosso lado, não é ?
Groetjes,
Ana
Oi Ana, feliz ao ler seu comentário. Sabe o que acho mais difícil na adaptação? São exatamente esses pequenos detalhes, as pequenas regras sociais que nós desconhecemos. Permaneça pensando assim. O tempo está ao nosso lado e cada dia é uma nova descoberta. Enriqueça a sua vida através dos pequenos aprendizados.
Muito obrigada e volte sempre!
Olá.
Gostava de saber se os diplomas universitários do Brasil servem para trabalhar na Holanda. É possível ter um bom emprego aí com uma licenciatura (feita no Brasil) em Letras?
Obrigada
Olá,
Os diplomas brasileiros devem ser revalidados na Holanda. Pelo que sei, na maioria das vezes, é preciso voltar a estudar na Holanda para que o diploma seja válido.
Obrigada pela visita e por comentar no blog.