Tentando me adaptar a uma nova rotina, encontro uma folguinha pra matar a saudade daqui. Adoraria falar que levanto junto com o sol, mas aqui o sol tem acordado tão tarde que quando ele aparece, ja estou longe. Os dias têm começado cedo e terminado bem tarde, mas tem sobrado tempo para ler e estou achando até um tempinho pra blogar. Como dizem: se voce quer que alguma coisa seja feita, peça a uma pessoa ocupada
Bom boa parte do meu tempo, tenho passado em meios de transporte. Engraçado, uma das coisas que sempre achei bom por aqui foi o transporte público. Bem, até precisar utilizar no horário de pico. Em quatro dias, presenciei quatro atrasos em diferentes meios. Logo a minha primeira impressão me enganou direitinho…
Mas tenho observado algumas coisas interessantes no trem. Olhem só:
- – Enquanto no Brasil sempre era uma batalha campal para sair do metrô porque as pessoas nao esperavam até as outras saírem, aqui isso realmente é respeitado.
- – Os ringtones dos celulares nunca me chamaram tanto atenção. É cada um! E ainda tem gente que deixa tocar bem antes de atender. Das duas uma: ou acha que musiquinha irritante é o máximo ou tá de mau humor e tá fim de infernizar a vida dos outros.
- -E como se fala no telefone no trem! Alguns mais educadinhos, mantêm um tom de voz aceitável, mas outros.. cruzes. O pior é que agora que a língua nao é mais tão alienígena para mim, entendo os detalhes das conversas e às vezes, ouvimos muito mais do que o necessario.
- – Os melhores companheiros de viagem são realmente o livro e a música. Senão fica aquele clima ” não tô te olhando”e quando os olhos se encontram, o olhar desvia rapidinho pra janela. Mas sempre você tem a sensação de que alguém tá te olhando.
- – Também tem sempre aquele que, com o olho comprido, dá aquela espiada no seu livro ou sobre a manchete do jornal e quase lhe pede pra mudar de página.
- – O trem também é um lugar de refeição. Aliás, na Holanda, as pessoas comem em qualquer lugar, não é mesmo?! Na rua, na chuva ou na fazenda, as criaturas tiram os sanduichinhos amassados da bolsa ou da mochila e matam a marrrrvada da fome. De manhã, o trem cheira a café e à noite, à fast food.
- – Quase ia esquecendo! Sim, espaço para as pernas. Que o povo holandês, em média, é o mais alto do mundo a gente sabe. Então, você deve imaginar o tamanho das pernas das criaturas. Quando você pega um Pernalonga comedor de queijo sentado à sua frente, dá vontade de ir pro circo tomar aula de contorcionismo.
Mas ontem de manhã, algo me chamou a atenção. Saltei do trem e comecei a caminhar em direção à saida da estação. Pela quantidade de pessoas que me acompanhavam, esperava os ruídos normais de conversas, gargalhadas ou seja, barulho de gente mesmo. Só ouvi o som dos saltos e dos sapatos no chão. Não sei se era o frio ou o sono, mas parecia que todo mundo apenas marchava sem ânimo e sem olhar à sua volta, apenas para o relógio. Rostos tensos, passos apressados e silêncio. Como também estava apressada, segui o meu caminho. Mas não deixei de pensar que não quero me tornar mais uma nessa multidão silenciosa. Quero manter os meus olhos bem além do meu relógio.
Imagem: vbszulte.be
1 comment
Imagino que o transporte vai lhe servir de inspiração para muitos posts por aqui…
beijo,